Até onde uma semente pode crescer?
Até onde uma boa história pode chegar?
Admito: existem histórias mais fáceis de contar do que outras. Algumas são grandes demais para caber em palavras.
Mas vamos nos esforçar para contar esta com o respeito e o encanto que ela merece — porque sim, é uma história com final surpreendentemente feliz.
Mas antes, vale falar um pouco sobre a palmeira juçara.
Num resumo nada técnico (e bem apaixonado), dá pra dizer que ela é a nossa versão do açaí da Mata Atlântica.
Uma palmeira imponente, que pode ultrapassar os 20 metros de altura.
E já te adianto: é difícil não se apaixonar por ela.
Cultivada em sistemas de agrofloresta, a juçara exige preservação para crescer forte, atrai vida com a riqueza de seus frutos, ajuda a manter o solo saudável e — pode pirar comigo agora — dispensa totalmente herbicidas e defensivos.
Se a palmeira juçara pudesse falar, talvez dissesse:
“Ou a gente ama a natureza junto… ou nem tente ter uma relação comigo!”
Dá pra entender por que me apaixonei, né?
Mas voltemos à nossa grande história.
Tudo começa com um pai: Cristiano Bortolotti — um homem, sem sombra de dúvidas, à frente do seu tempo.
Amante da natureza não apenas como sustento, mas como companheira.
Ao perceber o quanto as palmeiras juçara em mata fechada atraíam vida, resolveu trazer algumas mudas pro terreiro de casa. E ensinou aos filhos que a natureza devia estar por perto, não à parte.

Essa semente nunca morreu no coração da família.
Especialmente nos filhos Pedro e Vicente Bortolotti, que cresceram cercados por palmeiras juçara, admirando e respeitando aquela planta como símbolo de vida, beleza e conexão com a terra.


Os irmãos, Pedro Bortolotti e Vicente Bortolotti. Foto: John Adão
Mas ainda havia algo escondido…
Um bônus que só viria com o tempo, nascido desse amor plantado por um pai que pensava em biodiversidade muito antes dessa palavra virar pauta recorrente.
Foi só alguém de fora perguntar:
“Ué… vocês nunca provaram isso aí?”
E pronto. O primeiro gole de juçara revelou sabor, energia, vigor — e uma oportunidade que até então ninguém via.
Sabe aquela máxima? “Depois que a gente vê, não tem como ‘desver’…” E mesmo que mais ninguém esteja vendo, você já viu.
Abriu-se um novo caminho para os irmãos Bortolotti.
Um caminho onde inicialmente só eles enxergavam valor. O fruto que caía todos os anos agora se mostrava potente.
No começo, vender polpa de juçara numa caixinha de isopor, ali mesmo na cidade, parecia maluquice.
Mas, meus amigos… toda grandeza precisa vencer a resistência do novo.
E se você me permitir, vou resumir tudo que a ação corajosa, ousada — e com uma dose cavalar de empreendedorismo — desses irmãos gerou: muito, muito mais do que polpa de juçara.
Hoje, cada um dos irmãos Bortolotti é proprietário de uma agroindústria de processamento da polpa da juçara — que, além de abastecer o Espírito Santo, já chega ao Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e até ao exterior.
Rio Novo do Sul, terra da família Bortolotti, tornou-se oficialmente a Capital Estadual da Palmeira Juçara, com mais de 150 produtores que cultivam e têm na juçara uma importante fonte de renda.
Foi lá também que a gente acompanhou de perto a 4ª Festa da Palmeira Juçara.
É incrível pensar que aquela atitude de amor, vinda de um pai que plantou palmeiras no terreiro de casa, hoje virou tema de festa e motivo de orgulho para todo um município.
Uma festa com música boa, gente animada e, claro, muita juçara nos estandes dos expositores locais.
Além da polpa, a juçara virou sorvete, massa, pipoca, molho especial e tantos outros produtos com o sabor marcante desse fruto.
Uma celebração do agro em sua totalidade de sentidos e valores. Uma festa que exalta cultura, renda e legado construídos ao redor da palmeira.
A juçara tem festa — e até rainha: uma representante entre as “Garotas Juçara”, escolhida para viver um reinado de orgulho e representatividade por um ano.


Foto: Comunicação da Prefeitura de Rio Novo do Sul
E no brilho daquela coroa, a gente enxerga mais do que um título de beleza. Vê uma homenagem à nobreza de quem cultiva com amor.
A pergunta que ecoa é inevitável:
“Acreditar em princípios que vão na contramão é devaneio ou é sonho realizado por quem cultiva com amor e verdade?”
A juçara inspira um agro que transpira biodiversidade e sustentabilidade. Que preserva a floresta para produzir, em vez de derrubá-la.
O que antes era exploração, hoje é conservação ativa.
E os sonhos de dois irmãos agora se misturam aos de uma comunidade inteira que cresce e prospera junto com a floresta.
Não sei dizer se o agro imita a vida ou se a vida imita o agro.
Mas, como uma boa semente plantada em solo fértil dá bom fruto, Rio Novo do Sul provou que uma semente de amor à natureza, cultivada com verdade e inspiração, pode gerar renda, cultura, orgulho… e até rainha!
Juçara: o fruto que não para, e cresce junto com a força e ousadia do agro capixaba.
Nos vemos na próxima história.