Os Correios serão alvo de uma “mini CPI” no Senado após o anúncio de déficit de R$ 2,6 bilhões em 2024. O aumento de despesas com patrocínios também será tema de uma fiscalização proposta para investigar supostas irregularidades na estatal.
A iniciativa que vem sendo chamada de “mini CPI” é na verdade um pedido de fiscalização sobre os Correios que foi apresentado pela senadora Damares (Republicanos-DF) na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado. A relatoria da fiscalização ficou a cargo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A partir da semana que vem, o relator deve apresentar um plano de trabalho à Comissão, que terá que aprová-lo.
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Diferente de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a Comissão de Fiscalização não pode convocar pessoas nem quebrar sigilos, mas pode requisitar informações e elaborar relatórios técnicos com apoio do Tribunal de Contas da União (TCU).
De acordo com a senadora Damares, a fiscalização deve contribuir com a criação de uma CPI dos Correios, cujo requerimento foi apresentado pelo senador Márcio Bittar (União-AC) em fevereiro, com apoio de 32 senadores. O pedido de CPI está parado na mesa do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
“Trata-se de um instrumento que, além de permitir atuação célere e técnica, pode contribuir significativamente para fundamentar as ações da CPI proposta, ampliando o escopo de investigação”, afirmou a senadora ao fundamentar seu pedido.
No pedido de fiscalização, Damares também propôs um plano de execução para as investigações. Alguns dos pontos que devem ser investigados são a desistência de ações judiciais com prejuízos bilionários para a empresa e a inadimplência com transportadoras e fornecedores.
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Patrocínios a eventos consumiram mais de R$ 30 milhões dos Correios
Mesmo em meio ao déficit bilionário, os Correios aumentaram o volume de recursos destinado a patrocinar eventos culturais no governo Lula. Os gastos que, de acordo com a estatal, visam “melhorar a imagem institucional” dispararam na atual gestão saindo de uma média de R$ 430 mil ao ano, entre 2019 a 2022, para R$ 34 milhões só em 2024, de acordo com levantamento divulgado pelo Poder360.
Em 2024, entre os desembolsos da estatal, R$ 6 milhões foram destinados para exibir sua marca no Lollapalooza e R$ 4 milhões de reais na turnê “Tempo Rei”, de Gilberto Gil.
Já em 2025, o único patrocínio divulgado pela empresa até o momento foi um repasse de R$ 1,3 milhão ao Encontro de Novos Prefeitos e Prefeitas 2025 com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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Correios enfrenta uma série de crises
Em abril, empresas que prestam serviço de transporte aos Correios fizeram uma paralisação, reclamando de atrasos nos pagamentos. “As empresas não receberam os seus faturamentos de janeiro/2025, tornando impossível a continuidade das execuções dos serviços de cargas e entregas em âmbito nacional, além do descumprimento da data prevista para pagamento, sendo todo dia 16 e 28 dos meses subsequentes, conforme previsão contratual, o que torna inadmissível, ficarmos 90 dias sem recebimentos”, dizia um trecho do comunicado das empresas enviado aos Correios.
Ao Power 360os Correios disseram que estavam operando “dentro da normalidade” e que adotariam “ações contingenciais” se for necessário. “A estatal reitera que está atuando para resolver o mais rápido possível as inconsistências no sistema de pagamento, e que está realizando o pagamento de forma gradual aos fornecedores”, diz a nota.
Denúncias também apontam que o plano de saúde dos servidores dos Correios foi afetado por atrasos nos repasses. De acordo com o senador Márcio Bittar, o problema levou à suspensão de atendimentos médicos. “Muitos servidores que precisarem recorrer ao plano de saúde não terão mais como fazê-lo, a não ser que tirem do seu próprio bolso, porque alguns hospitais já deixaram de atender o plano dos Correios após calote milionário”, afirmou o senador em discurso na tribuna.
Correios anunciam medidas para conter rombo
A estatal anunciou recentemente um pacote de medidas para conter os prejuízos. A intenção é reduzir em até R$ 1,5 bilhão as despesas ainda em 2025. Entre as ações estão o incentivo à redução da jornada de trabalho para 6 horas diárias e 34 horas semanais, com ajuste proporcional de remuneração e a suspensão temporária de férias.
Ao falar sobre o déficit, o presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, afirmou que nos últimos dois anos foram investidos R$ 1,6 bilhões em tecnologia, infraestrutura operacional e renovação da frota de veículos.
“Nós pegamos uma empresa que estava prestes a ser privatizada, que estava sucateada. Se deixou de investir em inovação. E isso para uma empresa que se pretende ser eficiente na logística e nas entregas, é fundamental”, justificou Santos em entrevista concedida do Jornal Nacional.
Apesar dos fatos, aliados do governo Lula tem se posicionado sobre a crise dos Correios sem criticar os gastos. Em publicação no X, o deputado Glauber Braga (Psol-RJ) afirmou que “os Correios não tem que ter como objetivo principal o lucro”. “O fundamental é garantir a integração do país e atender a todas as regiões pois isso é uma questão de soberania. Estou com os trabalhadores dos Correios em defesa dos seus direitos e contra o fechamento de unidades”, escreveu Braga.