Apesar dos trabalhos desacelerados no Congresso nas últimas semanas, impulsionada especialmente pelos feriados nacionais, o ritmo no Executivo segue a todo vapor. Nos primeiros cinco dias de maio, o governo Lula precisou movimentar suas peças no tabuleiro da política e substituir lideranças de dois ministérios. Ao todo, 12 nomes foram trocados desde 2023 e a expectativa é de que a movimentação não acabe por aí.
Embora muito especulada, a reforma ministerial tem ocorrido de forma lenta e, algumas vezes, marcada por improvisos a fim de contornar crises. Para alguns, as movimentações sequer se caracterizam como reforma, já que, independente do motivo das substituições, os partidos mantiveram intactos seus espaços na Esplanada. O que se observa, na prática, são substituições mirando o fortalecimento de alianças já existentes para as eleições de 2026.
No pragmatismo político, diante de um Legislativo cada vez mais descolado do Executivo, Lula tem apostado na reformulação de sua equipe com um olho mais próximo das urnas do que na governabilidade
Entre as mudanças que fugiram ao controle do governo, as substituições de Juscelino Filho (UNIÃO/MA), das Comunicações, e de Carlos Lupi (PDT), da Previdência Social, evidenciam a dificuldade do governo para agir frente a uma crise. Pressionado pela oposição e pela opinião pública, o Planalto optou por se abster nos dois casos e esperar que os próprios ministros se demitissem, a fim de evitar conflitos com seus partidos e fragilizar ainda mais a base governista. A estratégia, no entanto, parece não ter surtido os efeitos esperados em todos os casos, tendo em vista que o núcleo do PDT na Câmara anunciou a saída da sigla da base aliada após a demissão de Lupi, presidente licenciado do partido. Com isso, os 17 deputados deixam de apoiar automaticamente o governo na Casa, sem necessariamente se colocar como oposição. A saída preocupa o governo, que precisa do apoio dos parlamentares para aprovar pautas prioritárias, como o projeto que eleva a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês (PL 1087/2025), e para frear o avanço do PL da Anistia (PL 5064/23).
Em busca de manter o apoio do Centrão, o governo ainda botou panos quentes sobre o episódio que, internamente, considerou desrespeitoso. A desistência do cargo de Ministro das Comunicações pelo dep. Pedro Lucas Fernandes (MA) — líder do União Brasil na Câmara — para permanecer em seu posto, abriu espaço para dúvidas se ainda é vantajoso integrar o governo, sobretudo no ano em que as emendas ao Orçamento atingiram o maior número da história. Os R$ 50 bilhões à disposição dos parlamentares aumenta a sensação de independência do Congresso em relação ao Executivo.
Com a proximidade do pleito eleitoral do próximo ano, Lula também tem optado por alternativas que melhorem a avaliação de seu governo e fortaleçam o campo da esquerda em 2026. A nomeação dos petistas Alexandre Padilha (Saúde), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Márcia Lopes (Mulheres) busca cercar o presidente de nomes de confiança e ampliar o protagonismo do partido no âmbito nacional. Com Márcia, que já foi ministra de Estado em Lula 2, para além de um nome de confiança e histórico no PT, o governo busca se reposicionar e reconquistar o eleitorado feminino, um dos principais segmentos responsáveis por elegê-lo em 2022.
Seguindo a máxima de que “não basta ser, é preciso parecer”, outra figura importante no time de aliados é Sidônio Palmeira, nomeado para a Secretaria de Comunicação Social no início deste ano. O publicitário, responsável pela campanha eleitoral de Lula em 2022, tem trabalhado intensamente para estreitar a relação do chefe do Executivo com seu eleitorado. Além disso, Sidônio tem atuado para fortalecer a imagem positiva do governo, apresentando as entregas e buscando suavizar dados preocupantes, como os índices econômicos e as crises de imagem. Com os supostos desvios no INSS e a consequente queda na avaliação do governo, seu desafio agora será traçar novas estratégias para reconstruir a confiança da população.
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A próxima movimentação na Esplanada pode não estar distante. Nos últimos dias, o nome do deputado Guilherme Boulos (PSOL/SP) voltou a ser cogitado para ocupar a Secretaria-Geral da Presidência da República. Liderança histórica na luta do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Boulos teria a missão de aproximar o governo dos movimentos sociais, ampliando a interlocução com mais uma grande fatia do seu eleitorado. A nomeação, no entanto, ainda não foi confirmada.
No pragmatismo político, diante de um Legislativo cada vez mais descolado do Executivo, Lula tem apostado na reformulação de sua equipe com um olho mais próximo das urnas do que na governabilidade. O governo não acredita mais no apoio incondicional de sua base no próximo pleito, mas busca por alianças que garantam suas fatias de poder em diferentes regiões do país. A questão que permanece é se essa composição será suficiente para manter a base governista até o fim de seu mandato e garantir os apoios necessários para as eleições de 2026.
Carolina chegandoadvogada, especialista em Direito Público e em Ciência Política, é sócia-fundadora da ÉTICA Inteligência Política.