Nas últimas semanas, o movimento cristão Legendários ganhou muita relevância em sites de notícias e nas redes sociais. A participação de famosos nos retiros espirituais, em que centenas de homens sobem uma montanha em meio a orações e pregações sobre família e masculinidade bíblica, chamou a atenção para o movimento.
Matérias jornalísticas e artigos de opinião sobre o Legendários seguiram, via de regra, um tom crítico, que também foi encontrado em parte das repercussões nas redes sociais. Mesmo assim, líderes do movimento no Brasil evitaram declarações públicas ou entrevistas. Pelo contrário: pouco se ouviu em relação a manifestações oficiais do movimento.
As lideranças acompanharam atentamente as repercussões, mas o silêncio foi proposital. A cúpula do Legendários, formada por seus fundadores na Guatemala, entende que o movimento não deve ser combativo ao responder críticas, e entrevistas à imprensa são bastante pontuais.
Com exclusividade, a reportagem da Gazeta do Povo foi recebida por Antero Ribeiro, atual coordenador do Legendários Curitiba e uma das principais lideranças do movimento no Brasil. Ao lado dele esteve Nildo Vital, responsável por coordenar a frente do Legendários focada em restauração de casamentos, chamada REM.
Ao longo da conversa, ambos falaram sobre como as lideranças assistiram à expansão do Legendários para fora de suas bases e responderam sobre as principais críticas ao movimento.
Gazeta do Povo: Do começo do ano para cá o Legendários “furou a bolha”, e hoje muitos, mesmo de fora do meio religioso, têm opiniões formadas sobre o movimento. Qual é a avaliação de vocês quanto a essa ampla repercussão?
Antero Ribeiro: O Legendários veio para trabalhar muito forte o homem e a família. Não queremos polêmicas, apenas levar Jesus para transformar homens e fazer com que famílias sejam fortalecidas. Esse é o nosso propósito. O Legendários nasceu por causa disso.
Quando o movimento surgiu, na Guatemala, a realidade das igrejas de lá era de que os homens cristãos estavam sentados no sofá sem fazer nada, e que tudo o que era feito nas igrejas era pelas mulheres. Nada diferente da nossa realidade aqui no Brasil.
Quando nós falamos aos homens que terão “um novo nível de amor, de honra e de unidade” não quer dizer que quem vai participar não tenha nada disso, mas que vai ter um novo nível, porque todos podem melhorar.
Hoje muitas igrejas querem promover o Legendários porque viram o reflexo positivo nos homens que fizeram. Eles voltaram da montanha diferentes, mais dispostos e disponíveis. Realmente entenderam que precisam estar na frente da batalha nas suas casas.
Mas vocês veem essa repercussão recente, acompanhada tanto por apoio quanto por críticas?
Nildo Vital: Conversamos um dia com o Chepe Putzu (guatemalteco fundador do Legendários) sobre isso, em especial sobre como ele via a participação desses vários influenciadores. E ele disse: “Olha, todos precisam ouvir o Evangelho. Esses caras talvez nunca irão a um evento promovido dentro de uma igreja, mas no Legendários eles vão. Eles precisam de uma oportunidade para ouvir. Todos precisam”.
E é isso: o Legendários consegue trazer homens que não iriam a nenhum outro evento em uma igreja para ouvir sobre Jesus, sobre caráter e questões de família.
Todos os homens que estão subindo a montanha, incluindo os influenciadores, estão tendo mudança de vida? Não sei. Mas eles foram impactados de alguma maneira. Tanto é que, no caso dos vários influenciadores que participaram, não vi nenhum que voltou falando mal.
Então quando vimos essa repercussão ficamos, de uma certa maneira, atentos. Para nós, o que mudou? É que agora todo mundo sabe o que é o movimento. Mas na prática, no dia a dia, não mudou nada.
Antero Ribeiro: Tem muitas críticas no sentido “Ah, agora tem que subir a montanha para virar homem”. Não, ninguém está falando isso. Nós estamos falando que o seu caráter vai ser chacoalhado.
Na montanha não tem nada místico. Nós vamos subir com mochila nas costas e barraca. Mas vamos para lá por quê? Porque lá é isolado, e o celular não funciona. Você fica totalmente desconectado do mundo, mas conectado com Deus. É isso que nós queremos – que os participantes se desconectem das coisas que distraem.
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Uma das críticas que o movimento mais recebe é sobre um suposto machismo. Como veem esse tipo de acusação?
Antero Ribeiro: É o contrário disso. Se aquele homem era machista, ele vai voltar muito menos machista, porque ele entende que precisa ser melhor, que pode fazer mais, que pode ajudar mais. Ele descobre que tem a função de líder, mas o líder tem que ser o servo. Então ele descobre que em casa ele tem que servir à esposa e aos filhos, e isso faz dele um marido melhor.
Tem muitos mitos, muitas conjecturas absurdas que fazem sobre o Legendários. Dizem que vamos soltar galinhas e que os homens vão ter que matá-las para comer. Dizem maliciosamente que os homens estão indo lá para ficar junto com outros homens. Por que vamos ficar respondendo esse tipo de coisa? Não vamos.
Antero Ribeiro
Não vejo nenhum problema quando o pessoal faz brincadeiras sobre o Legendários. A gente não tem problema com isso – se eu ouço, vou dar risada junto. O que a gente não quer são mentiras.
Percebi que há uma crítica comum em relação a um possível entrelaçamento do Legendários com a chamada “teologia coach”, especialmente após a participação de alguns coachs ou ex-coachs, como o Pablo Marçal. Como enxergam isso?
Nildo Vital: Já estávamos com 80 mil legendários (alcunha dada a homens que participaram do retiro) em todo o mundo quando influenciadores famosos e o Pablo Marçal participaram neste ano. No Brasil, já estávamos com mais de 30 mil – hoje estamos com cerca de 40 mil.
Então quando o Pablo Marçal chega, como ele é um coach, vários outros vieram também. Mas isso não veio de nós. Tudo o que é trabalhado com esses homens tem a ver com mudança de vida e tem como base a palavra de Deus.
Antero Ribeiro: Sobre essa crítica de que no Legendários teria essa “teologia coach” … Se você ver quem são os pregadores do evento, são os líderes das próprias igrejas (que promovem), os líderes daquela localidade. Temos um material que facilita muito, aí naquela igreja tem homens com facilidade com a fala, e eles vão comunicar. Não tem nenhuma preparação em cima de “teologia coach”.
E sobre o suposto preço de 80 mil reais para a inscrição no Legendários?
Antero Ribeiro: Isso foi um erro de sistema no site do Legendários, na página de inscrição, e foi rapidamente corrigido.
Aqui no Brasil, nós nos submetemos à direção do Legendários Global, e segundo as diretrizes é proibido cobrar mais do que 300 dólares. Se você analisar os preços nos eventos do Brasil inteiro, você vai ver que varia de R$1.300 a R$ 1.800. Ou seja, ninguém pode cobrar nada perto de R$ 80 mil, e ninguém nunca pagou esse valor para participar.
Sobre o preço, tem vários custos. Como levar 300, 400 homens de ônibus (entre participantes e equipe de apoio) para a montanha? Nós estamos falando de sete, oito ônibus. Há um impacto muito alto com relação a isso. Também damos alimentação para todos. E não há intenção de lucrar. A gente não quer isso.
Então as críticas nessa área são pura especulação. Tem críticas sobre preço, sobre “machismo”, sobre os homens não contarem o que acontece nos eventos… E aí gera todas essas especulações.
Por que é proibido que os participantes contem suas experiências?
Antero Ribeiro: É apenas para não estragar a surpresa para quem vem depois. É por respeito ao outro, porque quando chega um momento que vai ser impactante, o fato de já saber quebra a experiência. Aí todos vão descobrindo juntos, mas a experiência é individual, é diferente para cada um.
Também há o aspecto físico. Para alguns essa experiência é fácil, mas para outros é um desafio, porque você carrega a mochila, e estamos falando em subir uma montanha. E uma das coisas que sempre acontece é enxergar o limite pessoal. Isso mexe muito com aquele homem, porque ele já tem alguns limites formatados na mente.
Quando ele consegue ultrapassar um limite, automaticamente ele fala: “Peraí, então eu consigo recuperar o meu casamento. Eu consigo ser um pai melhor. Eu consigo ser um profissional melhor. Eu consigo chegar em casa no final do dia cansado do trabalho e dar atenção pro meu filho”.