À frente de agremiações políticas que concentram cerca de metade dos votos na Câmara e movimentam receitas bilionárias por meio dos fundos partidário e eleitoral, cinco “supercaciques” – presidentes de legendas de centro e centro-direita – investem para consolidar seus projetos de poder de longo prazo.
Valdemar Costa Neto (PL), Gilberto Kassab (PSD), Renata Abreu (Podemos-PSDB), Ciro Nogueira (PP) e Antônio Rueda (União Brasil) ampliaram influência nas urnas de 2024, quando levaram 60% das prefeituras e metade dos R$ 6 bilhões de verbas públicas reservada aos partidos.
Os dirigentes seguem com estratégias de domínio político após as próximas disputas. A mais recente envolveu o lançamento da federação PP-União. Eles buscam a hegemonia até 2030, antecipando o fim da polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Liderando siglas com forte presença no Congresso e ampla capilaridade nacional, os cinco supercaciques já atuam como peças-chave na redefinição do mapa político do país a partir das eleições de 2026, buscando ampliação do espaço no Congresso e a sua influência sobre a Presidência da República.
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Cenário partidário caminha para a concentração e o comando profissional
Confira:
- 1 Cenário partidário caminha para a concentração e o comando profissional
- 2 Federação PP-União Brasil inaugura modelo estratégico de arranjo partidário
- 3 Blocos se organizam em três grandes frentes, avaliam especialistas
- 4 Federação PP-União afeta as negociações para a corrida ao Palácio do Planalto
- 5 Kassab vê aliança do centro em torno de candidatura de Tarcísio à Presidência
- 6 “Supercaciques” têm perfis distintos, mas a mesma missão de fortalecer suas siglas
Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo sublinham que o cenário político brasileiro passa por profunda e silenciosa transformação. À medida que 2026 se aproxima, fusões, federações e restrições da lei partidária impõem o fim da fragmentação extrema e a criação de blocos robustos e coesos.
A cláusula de barreira, em vigor desde 2017, limita o acesso de partidos ao fundo partidário e à propaganda gratuita. Para superá-la, a legenda precisa ter ao menos 2% dos votos para deputado federal em nove estados, com no mínimo 1% dos votos válidos em cada um desses estados, ou eleger 11 em ao menos nove estados.
Desempenho insuficiente, obrigatoriedade de federações duradouras e fim de coligações proporcionais eliminaram muitos dos 28 partidos com assento na Câmara no início da década. Por isso, os menores têm buscado se juntar aos maiores, criando superestruturas nacionais com mais acesso a verbas.
O cientista político Antonio Lavareda avalia que o marco legal cumpriu a sua missão de afunilar o quadro partidário. “Logo teremos apenas meia dúzia de legendas. Isso melhora a operação do Legislativo, faltando apenas mudar o sistema eleitoral para enraizar os partidos na sociedade”, comentou.
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Federação PP-União Brasil inaugura modelo estratégico de arranjo partidário
O exemplo emblemático das mudanças políticas está na recém-lançada federação entre União Brasil e PP, que superou o PL em cadeiras na Câmara. Sob liderança do advogado Antônio Rueda (União Brasil) e do senador Ciro Nogueira (PP-PI), o novo arranjo partidário cria um modelo mais estratégico e centralizador.
Marcus Deois, diretor da consultoria política Ética, observa que a federação com 109 deputados e 14 senadores, com duração mínima de quatro anos, já surge com magnitude capaz de consolidar PP e União como protagonistas do cenário político nacional e de deflagrar a corrida eleitoral de 2026.
Ele lembra que Ciro Nogueira (PP) já se apresenta como candidato a vice em alguma chapa presidencial de centro-direita, evocando controle de quase R$ 1 bilhão em fundo eleitoral e a capilaridade regional de governadores e prefeitos. Autossustentável, a federação pode até lançar uma chapa própria.
Ronaldo Caiado, governador de Goiás e pré-candidato à Presidência pelo União Brasil, também tratou de enaltecer, em discurso no lançamento da federação e em carta aberta aos filiados do PP, o potencial da aliança dos partidos de “subir a rampa do Palácio do Planalto” após as eleições de 2026.
Blocos se organizam em três grandes frentes, avaliam especialistas
O cientista político Ismael Almeida vislumbra três frentes disputando o próximo pleito: a esquerda chefiada pelo PT, a direita representada pelo PL, e o centro conservador articulado por PSD, União-PP e o futuro Podemos-PSDB. “Será uma briga previsível, com pouco espaço para novidades”, diz.
Almeida destaca o protagonismo do PL à direita, mesmo possivelmente sem Bolsonaro na urna, com comando firme de Valdemar Costa Neto. Já a esquerda se manterá coesa sob liderança do PT, que já comanda a federação Brasil da Esperança, com PCdoB e PV, e ainda conta com Lula, mesmo se ele ficar de fora do próximo pleito presidencial.
Há também o centro, onde o PSD exerce tradicional posição neutra, pronto para negociar. O Podemos – que se fortaleceu nas últimas eleições e já absorveu o PSC – caminha para a fusão com o PSDB, em franco declínio. A legenda resultante pode tentar ser uma “terceira via”.
Defensores da concentração partidária veem nela um avanço em favor da governabilidade, uma redução dos custos políticos e o fim definitivo das siglas de aluguel. Críticos, porém, alertam que o poder excessivo dos caciques pode sufocar a renovação e inibir a pluralidade democrática.
Federação PP-União afeta as negociações para a corrida ao Palácio do Planalto
O lançamento da federação entre PP e União Brasil, com a presença do líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, mostram a preocupação dos líderes partidários com as consequências do rearranjo partidário sobre o cenário eleitoral de 2026.
A federação fortalece a articulação do Centrão e amplia o seu poder de barganha com Lula, embora líderes da aliança PP-União Brasil façam acenos à oposição, prometendo lutar pela responsabilidade fiscal. Caiado ainda quer engrenar a candidatura ao Planalto, sem consenso na própria legenda.
Paralelamente, a fusão do PSDB com o Podemos, aprovada semana passada por unanimidade pela cúpula tucana, aguarda aval da Justiça Eleitoral para ser formalizada em convenção nacional em 5 de junho. A união visa conter a decadência do PSDB e formar um bloco de centro alternativo aos demais.
Juntos, PSDB e Podemos somam 28 deputados, sete senadores, 405 prefeitos, três governadores e cerca de R$ 460 milhões em fundos partidário e eleitoral.
Kassab vê aliança do centro em torno de candidatura de Tarcísio à Presidência
O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, afirmou recentemente que, caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), decida concorrer à Presidência da República em 2026, a centro-direita deverá se unir em torno de sua candidatura, sem lançar outros nomes.
Kassab destacou que, caso contrário, a centro-direita poderá ter múltiplas candidaturas, como Ratinho Jr. (PSD), Ronaldo Caiado (União Brasil), Romeu Zema (Novo), entre outros. Tarcísio tem reiterado que pretende buscar a reeleição ao governo de SP e que apoia Jair Bolsonaro, inelegível até 2030, para a Presidência.
Em relação ao cenário eleitoral de 2026, Kassab acredita que o presidente Lula continuará sendo um candidato competitivo, apesar de enfrentar muitas frentes de desgastes. O dirigente vê uma eleição menos polarizada do que a de 2022, dando chance para o surgimento de candidatos de centro.
“Supercaciques” têm perfis distintos, mas a mesma missão de fortalecer suas siglas
Empresário e político paulista, Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, é destaque na articulação da direita no Brasil. Deputado por vários mandatos, esteve envolvido no escândalo do mensalão. Após a filiação de Bolsonaro em 2021, sua legenda se tornou a maior bancada da Câmara naquele momento.
De perfil discreto, o advogado pernambucano Antônio Rueda, presidente do União Brasil, atuou como articulador jurídico do processo de criação da legenda resultante da fusão entre DEM e PSL. Assumiu a liderança partidária com o desafio de equilibrar as alas ideológicas divergentes.
Senador pelo Piauí e presidente do PP, Ciro Nogueira é um dos maiores expoentes do Centrão. Ex-ministro da Casa Civil no governo Bolsonaro, já foi aliado dos governos petistas e é conhecido pelo pragmatismo na costura de alianças. Sob sua liderança, o PP ampliou a influência nacional e regional.
Deputada por São Paulo, Renata Abreu, presidente do Podemos, é a protagonista da fusão com o PSDB, devendo sair como presidente da nova legenda. Herdeira política do pai, José Masci de Abreu, ex-deputado e fundador do partido (então PTN), é conhecida por seu estilo conciliador.
Ex-prefeito de São Paulo, ex-ministro das Cidades e secretário do governo paulista, Gilberto Kassab é conhecido como hábil articulador. Criou o PSD a partir de dissidentes de outras legendas e consolidou um influente centro pragmático. Seu partido está em governos de esquerda e de direita.