Nascido nos Estados Unidos e com extensa carreira missionária no Peru, o papa Leão XIV, eleito nesta quinta-feira (8), tem um histórico de diversas visitas e boa relação com a Igreja Católica no Brasil, segundo diversos relatos de sacerdotes e leigos católicos.
Além das visitas realizadas como superior-geral dos Agostinianos, relatadas com detalhes nesta reportagem da Gazeta do PovoLeão XIV tem boa relação com cardeais e outros sacerdotes brasileiros. Como prefeito do Dicastério para os Bispos, o atual pontífice foi responsável por assessorar o papa Francisco na nomeação de 24 bispos no Brasil.
Antes de sua eleição, Leão XIV já estava com viagem marcada para pregar em um retiro da 62ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, organizada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que aconteceria em Aparecida (SP), e também para visitar Salvador. Ele deverá ser convidado para a COP30, a 30ª conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), que ocorre em novembro deste ano, mas a chance de aceitar o convite é remota, por causa do prazo curto.
Fotos de suas visitas passadas ao Brasil surgiram nas redes sociais desde a quinta-feira. A maioria delas é de seu período como superior-geral da Ordem dos Agostinianos, entre 2002 e 2013.
A atuação como superior-geral envolvia acompanhar comunidades da ordem ao redor do mundo, e o Brasil recebeu sua atenção direta. Entre os estados visitados estão São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Leão XIV teve contato direto com religiosos e comunidades ligadas à ordem no Brasil.
Durante seu período como prefeito do Dicastério para os Bispos, entre 2023 e 2025, Leão XIV também manteve um contato próximo com a Igreja brasileira devido à necessidade de nomeações episcopais no país, de acordo com o que relataram os cardeais brasileiros em coletiva na sexta.
Sua atuação no dicastério envolvia acompanhar as indicações e transferências de bispos para diversas dioceses, incluindo capitais e regiões estratégicas. Em fevereiro de 2025, durante uma visita da presidência da CNBB ao Vaticano, Leão XIV mostrou interesse nas demandas pastorais apresentadas pelos bispos brasileiros, mostrando conhecimento prévio da realidade eclesial local.
“Ele foi muito sereno conosco e, quando nós falávamos de algum ponto do Brasil, ele já conhecia, já sabia do que se tratava”, afirmou Dom Ricardo Hoepers, bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, em entrevista à CNN.
Segundo Hoepers, o cardeal Jaime Spengler, presidente da CNBB, jantou com o novo papa na quinta-feira e atestou a proximidade de Leão XIV com a realidade brasileira. “Dom Jaime Spengler, além de ser presidente da CNBB, é também presidente do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho). Também tem conhecimento do Peru, das necessidades da Igreja da América Latina, e provavelmente eles já estavam conversando sobre essas questões da América Latina com o novo Papa”, afirmou Hoepers.
Na coletiva de imprensa de cardeais brasileiros realizada na sexta, o cardeal Sérgio da Rocha, arcebispo em Salvador, contou sobre os planos – agora cancelados – para que Prevost visitasse a capital baiana em maio. “Já estava certo que ele celebraria uma missa na Basílica do Senhor do Bonfim e passaria também pelo Santuário Santa Dulce dos Pobres. Mas ele deixou bem claro: ‘quero estar no meio das pessoas’.”
Rocha relatou ainda que conversa com frequência sobre o Brasil com o papa. “Ele demonstra não só um interesse enquanto pastor, mas, na verdade, um afeto pelo Brasil, pelo povo brasileiro, pela Igreja do Brasil. Com certeza, nós vamos ter nisso uma continuidade do mesmo amor, do mesmo afeto que o papa Francisco demonstrava por nós.”
Quem foram os bispos que o papa Francisco nomeou para o Brasil com a assessoria do papa Leão XIV
Como cardeal, o agora papa Leão XIV liderava o Dicastério para os Bispos, órgão responsável por assessorar o papa na escolha de novos bispos.
Em registros da assessoria de imprensa da Santa Sé, a reportagem da Gazeta do Povo identificou 24 designações diferentes para dioceses e arquidioceses de arcebispos, bispos, bispos auxiliares e bispos coadjutores entre janeiro de 2023 – quando Prevost assumiu – e maio de 2025.
Destas 24 nomeações, cinco foram de novos bispos erigidos pela primeira vez, enquanto os outros já eram bispos e foram transferidos para novas dioceses ou promovidos a arcebispos. As nomeações ocorreram em regiões do Norte e Nordeste, como São Gabriel da Cachoeira (AM), Parnaíba (PI) e Cajazeiras (PB), além de capitais e grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro (RJ), Maceió (AL) e Belém (PA).
Entre os novos bispos, muitos têm perfil missionário e ligação com ordens religiosas, como franciscanos e redentoristas. Os cinco novos bispos erigidos no Brasil pelo papa Francisco no período de Prevost no dicastério foram: Dom Denilson Geraldo, bispo auxiliar de Brasília (DF); Dom Joaquim Hudson de Souza Ribeiro, auxiliar de Manaus; Dom Alcivan Tadeus Gomes de Araújo, auxiliar da Paraíba, Dom Antônio Carlos Paiva, bispo coadjutor de Oliveira (MG); e Dom José Maria Pereira, auxiliar do Rio de Janeiro (RJ).
Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife (PE), após ser transferido da Diocese de Garanhuns (PE). Dom Vítor Agnaldo de Menezes foi promovido a arcebispo de Vitória da Conquista (BA), vindo de Propriá (SE). Três novos bispos auxiliares foram nomeados para o Rio de Janeiro: além de José Maria Pereira, Hiansen Vieira Franco e Joselito Ramalho Nogueira. Além disso, foram designados arcebispos coadjutores para capitais como Maceió, com Dom Carlos Alberto Breis Pereira, e Belém, com Dom Júlio Endi Akamine, que foi transferido da arquidiocese de Sorocaba (SP).
As sete visitas do papa Leão XIV ao Brasil
Além da boa relação com os cardeais brasileiros e a CNBB, Leão XIV conheceu diversas cidades do Brasil em visitas como superior-geral da Ordem dos Agostinianos, entre 2002 e 2013, como mostrou reportagem da Gazeta do Povo.
2002: Quando era recém-eleito como superior-geral dos Agostinianos, Prevost foi a Curitiba (PR) em uma visita canônica para verificar a realidade pastoral e a vida comunitária dos freis. Durante essa visita, conheceu o então seminarista Maurício Manosso, que destacou sua serenidade e atenção aos jovens vocacionados.
2004: Celebrou missa na Paróquia São Pedro Apóstolo, no município de Rolândia, norte do Paraná, e participou da festa de 70 anos do Colégio Santo Agostinho, em Belo Horizonte (MG).
2007: Participou da cerimônia de beatificação do frei espanhol Mariano de la Mata Aparicio, que se destacou pelo trabalho social no Brasil desde 1931.
2008: Esteve novamente no Paraná e também em Minas Gerais para encontros religiosos, incluindo visitas a Curitiba, Rolândia e Ponta Grossa (PR), além de Belo Horizonte (MG).
2010: Continuou sua rotina de visitas como superior-geral dos agostinianos, reforçando o vínculo com comunidades no Paraná e em Minas Gerais.
2012: Em dezembro, participou da profissão religiosa de freis em Mário Campos (MG) e visitou Belo Horizonte, onde esteve na Paróquia Cristo Redentor. Visitou também obras sociais e comunidades religiosas em Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, São José do Rio Preto e Guarulhos.
2013: Participou do encontro latino-americano de jovens agostinianos em São Paulo. Visitou Aparecida (SP) em julho de 2013, marcando presença no Santuário Nacional.
