O mundo se despede nesta segunda-feira, 21, de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, de 88 anos. O Vaticano comunicou nesta manhã, às 7h35 (horário de Roma), que o pontífice “retornou à casa do Pai”. O anúncio foi feito pelo Cardeal Kevin Farrell por meio do seu canal do Telegram. Ele estava se recuperando de uma doença pulmonar.
O pontífice ficou internado por 38 dias neste ano, em razão de um quadro de pneumonia. Ele recebeu alta em 23 de março e se recuperava, restringindo ao máximos as atividades públicas. Neste domingo de Páscoa, 20, apareceu na Praça São Pedro e abençoou os fiéis.
“O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino”, diz comunicado oficial do Vaticano sobre a morte do papa.
Francisco, ou papa argentina
Jorge Mario Bergoglio nasceu em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina. Filho de imigrantes italianos, teve uma infância simples e formou-se como técnico em química antes de ingressar no seminário. Em 1958, entrou para a Companhia de Jesus e foi ordenado sacerdote em 1969.
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Bergoglio tornou-se arcebispo de Buenos Aires em 1998, quando sucedeu o cardeal Antonio Quarracino. Durante seu período no cargo, adotou um estilo de vida simples: além de evitar luxos, utilizava transporte público para se locomover pela cidade. Também ficou conhecido por seu trabalho pastoral voltado para as periferias e comunidades mais vulneráveis.
Em 2001, foi nomeado cardeal pelo então papa João Paulo II. No consistório realizado em 21 de fevereiro daquele ano, recebeu o título de cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino. Sua atuação no Colégio dos Cardeais foi marcada pela discrição, mas também pela defesa dos pobres e críticas à desigualdade social.
Durante o Conclave de 2005, que elegeu Bento XVI, relatos indicam que Bergoglio teria sido um dos cardeais mais votados nas primeiras rodadas.
Depois da renúncia do papa Bento XVI, em fevereiro de 2013, Bergoglio foi um dos cardeais presentes no Conclave realizado em março daquele ano. No dia 13 de março de 2013, foi eleito o 266º papa da Igreja Católica, tornando-se o primeiro pontífice jesuíta, o primeiro das Américas e o primeiro a escolher o nome Francisco, em referência a São Francisco de Assis.
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Desde o início do pontificado, Francisco implementou uma série de reformas no Vaticano, incluindo mudanças na administração financeira da Santa Sé e medidas contra abusos sexuais dentro da Igreja. Além disso, buscou aproximar a Igreja das questões sociais, defendendo os direitos dos mais pobres, criticando desigualdades econômicas e promovendo o diálogo inter-religioso.


Seu papado também foi marcado por visitas a diversos países, como Brasil, Estados Unidos, Cuba, Israel, Palestina e Emirados Árabes Unidos — este último foi um marco por representar a primeira visita de um papa à Península Arábica. Além disso, atuou diretamente em negociações diplomáticas, como o restabelecimento das relações entre Cuba e Estados Unidos, mediado pelo Vaticano em 2014.
Polêmicas
Desde o início de seu pontificado, Francisco fez declarações que geraram repercussão mundial. Em relação à comunidade LGBT+, afirmou em 2013: “Se uma pessoa é gay e busca a Deus, quem sou eu para julgar?”
Posteriormente, em 2023, disse que “ser homossexual não é crime”, mas reiterou a posição da Igreja de que atos homossexuais são considerados pecado.
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Sobre o aborto, Francisco reforçou a visão da Igreja Católica ao compará-lo a práticas históricas de eliminação de vidas indesejadas: “É justo eliminar uma vida humana para resolver um problema?”, perguntou, em 2018. Em outra ocasião, afirmou que “o aborto nunca pode ser apresentado como um direito humano”.
O pontífice também defendeu o cessar-fogo entre Israel e Palestina e cobrou uma solução diplomática para a região. Em 2023, depois de uma escalada de violência, declarou: “O terrorismo e os extremismos não ajudam a alcançar uma solução para o conflito entre israelenses e palestinos”.
Alinhamento político
Francisco tinha um discurso progressista, que o aproximou de lideranças políticas de esquerda ao redor do mundo. O pontífice argentino fez críticas ao sistema econômico global, além de defender pautas como a justiça social e o combate à desigualdade, o que ressoou com ideologias socialistas e comunistas.
Francisco teve encontros e demonstrou afinidade com figuras como o ex-presidente boliviano Evo Morales, que chegou a presenteá-lo com um crucifixo esculpido sobre uma foice e um martelo, símbolos do comunismo. Além disso, manteve relações com líderes latino-americanos como Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Gustavo Petro.


Suas encíclicas, como Todos os irmãos (2020), reforçaram sua crítica ao “capitalismo desenfreado” e defenderam um modelo econômico solidário e inclusivo. Embora o papa tenha negado qualquer alinhamento ideológico específico, sua postura gerou críticas de setores conservadores da Igreja, que o acusaram de se aproximar excessivamente de agendas políticas da esquerda global.