Uma professora trans da Escola Municipal Irmã Zorzi, em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, decidiu se vestir de Barbie para fazer uma dinâmica de volta às aulas com os alunos. Vídeo que mostra a interação da docente Emy Matheus Santos com crianças viralizou nas redes sociais e chamou a atenção de políticos da região.
Professor dá aula para crianças de 7 anos vestido de mulher em escola de Campo Grande. O vídeo foi postado pelo próprio professor no perfil o perfil @afro_queer (Instagram).
Denúncia do Escola Sem Partido.pic.twitter.com/3vji8flkv3– Fernanda Salles (@Reportersalles) 12 de fevereiro de 2025
De acordo com o portal Top Mídias News, a gravação foi publicada nas redes sociais da própria escola. “A nossa professora de arte, Emy, traz essas dicas incríveis para que o primeiro dia de aula seja divertido e acolhedor”, dizia a postagem, que não está mais disponível.
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No vídeo, a professora de artes cênicas interage com os alunos e pergunta suas idades. Em coro, as crianças respondem: “Sete”.
Políticos do Estado cobram autoridades municipais
Confira:
O caso repercutiu entre os parlamentares de Mato Grosso do Sul. O deputado estadual João Henrique Catan (PL-MS) questionou a roupa de Emy. Ele pediu providências à Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande (Semed).
“Fantasiado de travesti, essa é a vestimenta para ir na sala de aula dar aula para as crianças?”, indagou Catan na tribuna da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems). “Quero saber se isso está no conteúdo de ensino, o que isso contribui para o ensino? Eu quero saber se os pais dessa comunidade escolar gostariam de receber todos os professores vestidos ao contrário. Qual debate ele promoveu para essas crianças de seis e de sete anos?”
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Na ocasião, ele também criticou a lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que proíbe o uso de celulares em escolas. De acordo com o deputado, o vídeo é um exemplo do que “um celular na mão de um aluno pode mostrar ao parlamento, à sociedade”.
Em publicação nas suas redes sociais, o vereador Rafael Tavares (PL), de Campo Grande, disse que protocolou, na Semed, um ofício pedindo a abertura de um procedimento administrativo disciplinar contra a professora.
Professora trans acusa deputado de transfobia
Catan compartilhou um trecho de sua fala no seu perfil do Instagram. A professora se manifestou em comentário.
“Sou uma profissional, uma educadora, estudei para isso”, escreveu Emy. “Sou uma mulher trans, sou travesti, essa é minha identidade. Arte é arte. Foi um dia especial na escola, fui convidada a me fantasiar para receber as crianças de forma diferente para o primeiro dia de aula.”
![Emy Matheus](https://noticiasnobr.com.br/wp-content/uploads/2025/02/Fantasiada-de-Barbie-professora-trans-recebe-alunos-em-escola.jpg)
A professora também alegou que seu plano de aula estava “correto” para trabalhar “a criatividade e a imaginação das crianças”. Ela disse que espera que “a Justiça seja feita”. Em publicações no seu perfil, intitulado “Afro queer”, Emy acusa Catan de ser “transfóbico”.
Parlamentares do PT de Campo Grande saíram em defesa da professora trans. O líder do partido na Câmara Municipal, Jean Ferreira, emitiu uma nota de repúdio contra as declarações de Catan.
“Hoje presenciamos um ato vergonhoso, o deputado João Henrique Catan usou a transfobia como arma política, atacando publicamente a professora trans Emy Santos”, diz Ferreira. “Emy, uma educadora dedicada, foi alvo de uma narrativa falsa e desumana, distorcendo seu gesto pedagógico de acolhimento às crianças.”
Em nota, Semed diz que uso de fantasias é “recurso pedagógico““
Em nota, a Semed afirmou que abrirá procedimento administrativo para investigar, “com o objetivo de garantir a transparência e a correção dos fatos, se desacordo com as diretrizes curriculares e normas disciplinares.”
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Apesar disso, a pasta afirmou que o uso de fantasias é comum nas escolas públicas de Campo Grande. “É importante destacar que diversos professores adotam o uso de fantasias e caracterizações como recurso pedagógico, buscando tornar o processo de ensino mais lúdico, dinâmico e envolvente para as crianças, desde que vinculado ao plano de ensino e currículo.”