De olho nas eleições de 2026 e diante de uma baixa na aprovação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está cobrando de seu corpo ministerial ações para driblar um dos aspectos que mais afetam a percepção e o bolso do consumidor de baixa renda: a inflação dos víveres.
Depois de retirar para cima a inflação universal em 2024, o dispêndio da comida começou 2025 subindo mais de 1% em exclusivamente um mês, segundo a prévia da inflação de janeiro, divulgada nesta sexta-feira (24).
O ministro da Quinta, Fernando Haddad, se pronunciou exclusivamente na noite desta quinta-feira (23). Não falou em medidas, e disse que a queda do dólar e o aumento da safra vão contribuir para moderar a inflação dos víveres.
O presidente e ministros de várias áreas se reuniram na manhã desta sexta-feira para discutir o matéria. Entre medidas que seriam apresentadas a Lula, estavam mudanças nas taxas cobradas dos vales sustento e repasto, portabilidade do favor e a desoneração na folha de pagamentos dos trabalhadores dos supermercados. A amplamente criticada mudança no prazo de validade dos produtos de supermercado foi descartada por Rui Costa na quarta.
Apesar dos esforços de Lula e sua equipe em mostrar serviço, a tarefa de baratear a comida no limitado prazo não é simples. A inflação dos víveres é influenciada por fatores que independem do governo, uma vez que o tamanho da produção e as condições climáticas, e outros sobre os quais ele têm pouca influência, uma vez que os custos de insumos.
O professor de Economia e Recta Allan Augusto Gallo Antonio, pesquisador do Meio Mackenzie de Liberdade Econômica (MackLiber), questiona quais medidas diretas o governo poderia tomar, senão a “óbvia contenção de gastos e redução de tributos incidentes sobre a cadeia produtiva”.
“O governo pretende, por acaso, controlar fatores climáticos ou reverter a valorização do dólar frente ao real de maneira permanente? Que ‘conjunto de intervenções’ milagroso seria capaz de conter a inflação sem recorrer às velhas e fracassadas experiências de controles artificiais de preço, cujos resultados historicamente produziram desabastecimento e mercados paralelos?”, questionou o professor em um cláusula.
Governo descarta intervenções para minguar inflação dos víveres
Confira:
- 1 Governo descarta intervenções para minguar inflação dos víveres
- 2 Inflação, popularidade em baixa e início da corrida eleitoral para 2026
- 3 Clima e safra podem ajudar a moderar inflação dos víveres
- 4 Dólar elevado, exportações e demanda pressionam inflação de víveres
- 5 Ações de longo prazo para estabilização dos preços
“Por mais que o ministro diga que não haverá ação artificial [tabelamento], qualquer intervenção governamental gera temor. Tentaram fazer isso no caso do arroz [após as enchentes no Rio Grande do Sul], por exemplo. Não deu certo. Eles não aprendem”, disse Marítimo em entrevista ao Estadão.
Marítimo também relacionou a inflação dos víveres a fatores econômicos estruturais, uma vez que a falta de ajuste fiscal e a desvalorização do real, e não a questões pontuais. “São questões de conjuntura, mas eles acham que há passe de mágica”, afirmou.
O doutor em Economia Cláudio Shikida, técnico do Instituto Millenium, questiona os resultados das “medidas” discutidas pelo governo. “Governos sempre tentam intervir no mercado. A Ciência Econômica nos ensina que essas intervenções nem sempre trazem o resultado desejado, gerando consequências indesejadas por todos”, disse.
Inflação, popularidade em baixa e início da corrida eleitoral para 2026
Durante a primeira reunião do ano, quando proibiu os ministros de lançarem programas e cobrou uma melhor notícia das entregas do governo, o presidente também falou sobre a inflação. O tecido de fundo: as eleições de 2026.
“Todo ministro sabe que o alimento tá caro, é uma tarefa nossa garantir que chegue na mesa do povo trabalhador, da dona de casa, na mesa do povo brasileiro, em condições compatíveis com o salário que ele ganha”, disse. “A eleição do ano que vem já começou”, disse mais adiante o petista, ao reiterar que é preciso “trabalhar e entregar para o povo aquilo que ele precisa”.
Segundo levantamento divulgado pelo Paraná Pesquisa em 18 de janeiro, 65,7% dos brasileiros percebem aumento de preços nos supermercados, enquanto 20,6% acreditam que ficaram uma vez que estavam e exclusivamente 11,6% notaram redução.
A coleta de preços do IPCA, do IBGE, demonstra que o preço médio da sustento subiu quase 50% nos últimos cinco anos. A inflação da comida superou o índice universal em três deles.
Na gestão Lula, o primeiro ano foi de refrigério, com subida de exclusivamente 1% nesse grupo de produtos. Em 2024, porém, eles ficaram quase 8% mais caros, em média.
Clima e safra podem ajudar a moderar inflação dos víveres
Para 2025, as condições do clima e produção são mais animadoras. De harmonia com relatório da Confederação Pátrio da Cultura (CNA), projeta-se desaceleração nos preços de víveres, com subida de 5,75% em 2025, devido à recuperação da safra.
Matheus Dias, do Instituto Brasílico de Economia da Instalação Getúlio Vargas (FGV Ibre), explica que o clima favorável eleva a oferta de víveres e pode levar à redução de preços, caso a demanda siga permanente. Na safra recorde de 2023, uma vez que se viu, o dispêndio médio da sustento ficou quase inabalável, conforme a mensuração do IPCA.
De forma contrária, quando as condições climáticas são adversas e ocorre quebra de safra, uma vez que em 2024, a tendência é que os preços subam. Um exemplo evidente é o moca que, em 2024, subiu mais de 40% ao consumidor em meio problemas de safra nos maiores produtores mundiais, o Vietnã e o Brasil. Sem recuperação de produção à vista no limitado prazo, os preços tendem a seguir subindo.
A mesocarpo e a tão prometida picanha seguem a mesma tendência. Com aumento significativo no abate de bovinos em 2023 e 2024, que elevou a oferta e reduziu preços principalmente no primeiro ano de procuração de Lula, agora há menos cabeças para abate e bezerros para engorda. Os preços passaram a subir em meados de 2024 e, com a queda da oferta, tendem a seguir elevados.
Dólar elevado, exportações e demanda pressionam inflação de víveres
No entanto, nem todos os fatores que influem na inflação são alheios ao governo. Cristina Helena de Mello, professora de Economia da PUC-SP, destaca o impacto que o câmbio tem na equação. O dólar teve poderoso subida ao longo de 2024, em segmento pela suspicácia do mercado sobre as contas da gestão Lula.
A professora explica que a desvalorização do real eleva o dispêndio das importações, e que a produção de víveres depende de insumos dolarizados, uma vez que fertilizantes, por exemplo.
Ao mesmo tempo, fica mais vantajoso exportar. “Se aumentar a procura pelos nossos alimentos, porque eles estão com preços mais competitivos internacionalmente, e a gente aumentar a exportação desses alimentos, isso diminui a oferta e a disponibilidade desses produtos no mercado local. Então isso também tem um impacto sobre os preços que não é desprezível”, explica.
Um ponto levantado por Cristina Helena é que a ampliação da demanda também ajuda a justificar a subida dos preços. Boa segmento do aumento dos gastos públicos está ligada à ampliação de transferências de renda, uma vez que Bolsa Família e Mercê de Prestação Continuada (BPC), além do reajuste do salário mínimo supra da inflação.
“Você aumenta a procura sobre os alimentos e tem uma certa pressão sobre os preços”, avalia. A professora explica que, nesse caso, há um efeito de substituição maior, com as pessoas trocando alguns víveres por outros.
Ações de longo prazo para estabilização dos preços
Para que a demanda não provoque aumento dos preços, é preciso exaltar a oferta. Foi o que ocorreu em 2023, com safra recorde, mas não em 2024. Porquê mostrado supra, apesar da tendência de subida dos preços da mesocarpo e moca, uma supersafra de grãos pode ajudar a desacelerar a inflação de outros produtos.
“Vamos ter uma grande safra, e o dólar entrou em trajetória de queda, ainda que possa ser impactado momentaneamente por especulações. Commodities como leite, café, carne e frutas serão diretamente beneficiadas”, disse Haddad na quinta.
Cláudio Shikida defende que, da segmento do governo, a melhor medida para moderar a subida de preços é aumentar a competitividade e melhorar o envolvente de negócios do país, reduzindo os custos para todos os setores da economia. “Um ajuste fiscal baseado em corte de gastos, junto à abertura econômica e esforços para melhorar o ambiente de negócios. Esse é o caminho no longo prazo”, defende.
Ele é reticente em relação a medidas que possam trazer impactos imediatos. “Não existem soluções mágicas. As medidas que mencionei podem ser implementadas aos poucos, com transparência e clareza de objetivos. É assim em uma democracia funcional. Ou deveria ser”, concluiu.
Allan Augusto, da Mackenzie, observa que os jovens estudantes de economia aprendem logo no início o que oriente governo insiste em ignorar: “As forças de mercado não se dobram ao voluntarismo político. E, uma vez que a história já mostrou tantas vezes, desafiar essa verdade não resulta em progresso, mas em retrocesso”.