Desde sua eleição em novembro, Donald Trump tem gerado expectativas globais sobre a adoção de tarifas comerciais. China, México e Canadá se preparam para reagir, enquanto o Brasil avalia os possíveis impactos nas exportações. Os Estados Unidos são um dos principais destinos das exportações brasileiras.
“A pior maneira de o governo Lula iniciar sua relação com a administração Trump é instrumentalizar o governo contra um adversário político”, disse ao WSJ uma nascente próxima ao presidente eleito dos EUA. O Brasil parece ir de encontro a essa visão. Antes da decisão do ministro do STF, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, manifestou-se contrário à ida de Bolsonaro aos EUA, afirmando que a viagem visava atender a um “interesse privado” e não era imprescindível.
Trump se identifica porquê uma vítima de perseguição judicial nos EUA e vê semelhanças entre sua trajetória e a de Bolsonaro. O WSJ informa que o novo presidente americano está disposto a “usar tarifas comerciais para pressionar o Brasil e outros países” que ele considera estarem usando o sistema judicial para perseguição política.
Cautela diante do risco de possíveis tarifas por secção de Trump
O presidente da Associação de Negócio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, aponta que o momento é incerto e que é necessário esperar o início do governo Trump, que toma posse na segunda-feira (20), para diferenciar o que é retórica do que será concreto.
A cautela também está presente entre analistas internacionais. Dani Rodrik, professor de Economia Política Internacional da Harvard Kennedy School, avaliou em item para o Project Syndicate que o impacto do aumento das tarifas dependerá não somente do “escopo e magnitude das tarifas, mas também do propósito para o qual elas são colocadas”.
Mesmo diante da imprevisibilidade das ações de Trump, Castro avalia que, pela relação histórica entre Brasil e Estados Unidos, é pouco provável que o tarifaço seja estendido até o Brasil.
Aliás, essa estratégia seria, a princípio, contraproducente para os EUA, já que teria pouco impacto nos negócios da maior economia global. O saldo da balança mercantil entre os dois países, quando não é equilibrado, é superavitário para o lado americano. Em 2024, as exportações brasileiras para os Estados Unidos cresceram 9,2%, chegando a US$ 40,33 bilhões, enquanto as importações aumentaram 6,9%, totalizando US$ 40,583 bilhões. O saldo favorável para os americanos foi de US$ 253 milhões.
Durante o proclamação dos resultados da balança mercantil brasileira de 2024, a secretária de Negócio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Negócio e Serviços (MDIC), Tatiana Prazeres, afirmou que o saldo favorável aos EUA contribuiria para que o Brasil fosse poupado do aumento tarifário de Trump.
Diante desses resultados, caso elevasse as tarifas para o Brasil, Trump teria impactos pouco expressivos para combater o déficit mercantil, um dos principais objetivos que motivariam sua política protecionista. Somente em novembro de 2024, o déficit mercantil norte-americano foi de US$ 78,2 bilhões, segundo dados do US Census Bureau e do US Bureau of Economic Analysis.
Dani Rodrik questiona o uso de tarifas elevadas para combater o déficit, argumentando que, porquê qualquer barreira ao mercado, elas geram ineficiência. As tarifas combinam uma taxa sobre o consumo de bens importados com um subvenção às indústrias locais, podendo ter efeitos ambíguos: enquanto beneficiam algumas indústrias, prejudicam outras que dependem de insumos importados.
Aliás, ele aponta que não há garantia de que os lucros gerados serão direcionados a investimentos, empregos ou maior atividade econômica. Tarifas altas sobre produtos importados geralmente são repassadas ao consumidor, causando inflação. O CEO do J.P. Morgan Chase, Jamie Dimon, comentou recentemente que as atuais e futuras demandas de gastos nos EUA tendem a se refletir nos preços, podendo prolongar a inflação.
Influência chinesa pode aumentar com eventual imposição de tarifas por Trump
O fortalecimento da influência chinesa reduz as chances de tarifas mais altas para o Brasil. “Como maior economia da América do Sul, não interessa aos EUA perder espaço comercial para a China”, avaliou Castro, da AEB.
O gigante asiático é, atualmente, o primeiro parceiro mercantil do Brasil. Em novembro, os dois países celebraram 50 anos de parceria mercantil. Em 1981, a China era somente o 38º maior parceiro mercantil brasílico. Chegou à primeira posição em 2009, onde se mantém até hoje.
Ao contrário do que ocorre com os EUA, o saldo da balança mercantil com a China é superavitário. A diferença favorável ao Brasil foi de US$ 30,83 bilhões em 2024. Atualmente, as exportações para a China correspondem a 28,1% dos embarques brasileiros e as importações vindas do país asiático, a 24,2% do totalidade comprado pelo Brasil. Já os EUA são sorte de 12% das exportações nacionais e a origem de 15,5% das importações.
A consultoria Datagro estima que os embarques de soja e milho brasileiros para a China podem até crescer, caso os EUA elevem as tarifas para o país asiático. São produtos em que os dois países das Américas são concorrentes. Uma das principais preocupações, entretanto, é com a desaceleração do ritmo de expansão do PIB chinês.
A China é um dos principais alvos das políticas de Donald Trump. O país asiático teve, em 2024, o maior superávit da história em todo o mundo: US$ 990 bilhões. O país exportou US$ 3,58 trilhões e importou US$ 2,59 trilhões. Trump ameaçou aumentar a taxação sobre produtos chineses em até 60%.
Uma das avaliações é que a subida na balança chinesa no ano pretérito já seja revérbero das expectativas do mercado em relação às futuras tarifas para o país asiático, já que tapume de um terço do superávit chinês veio do negócio com os EUA.
Hudson Bessa, professor da Fipecafi, explica que a China baixou o preço de suas exportações, estimulando a ampliação de embarques de mercadorias. Aliás, o país quer expandir o mercado interno, a término de gerar uma dinâmica econômica mais possante.
Impacto das tarifas de Trump: reações globais e estratégias do Brasil
No final de novembro, Trump ameaçou impor tarifas de 100% sobre os Brics, caso adotassem uma novidade moeda para substituir o dólar nas transações comerciais. Rodrik avalia que países porquê a China e também a Índia tendem a não mudar seu comportamento frente a essas ameaças, oferecido os riscos de parecerem fracos no cenário global.
As estimativas são de que a medida traria impactos significativos tanto para a economia americana quanto para a mexicana, devido às amplas relações comerciais entre os países. Atualmente, os EUA exportam US$ 300 bilhões para o México e, em 2023, o estoque de investimentos americanos no país era de US$ 144 bilhões. As análises convergem também para um fortalecimento das relações mexicanas com a China.
A ingressão de bens e serviços chineses no México é limitada por regras do Tratado Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), que podem vir a ser questionadas em resposta às medidas protecionistas de Trump.
Segundo a Bloomberg, os países têm se avançado aos anúncios do governo Trump de três formas distintas: esperando as medidas para agir, contra-atacando ou buscando esfriar a situação. A sucursal especializada em notícias econômicas e financeiras coloca o Brasil no grupo dos que “esperam para ver”, ou seja, que estão aguardando as medidas para se adaptarem a elas.
A expectativa é de que, caso realmente haja uma subida nas tarifas com o Brasil, os exportadores brasileiros possam redirecionar as vendas para outros mercados, incluindo os asiáticos.
Castro, da AEB, tem ressalvas acerca dessas esperanças e afirma que, na teoria, pode funcionar, mas que, na prática, não necessariamente. “Na teoria, se bloqueia o comércio com um país, abre espaço para outro país. Mas a gente sabe que isso aí é uma coisa de curto prazo. Geralmente acontece, no curto prazo, logo volta ao comércio normal ou deixa de ter uma continuidade”, afirmou.
Bessa, da Fipecafi, afirma que, em um primeiro momento, cada país vai debutar a buscar uma saída e que, em um segundo momento, começarão a formar novas alianças e parcerias. Ele avalia que as tarifas mais altas dos Estados Unidos irão reduzir o dinamismo do mercado global, que poderá se reconstituir a partir de novas relações comerciais, mesmo que não nos níveis atuais.