O ministro Fernando Haddad (Herdade) reconheceu nesta terça (7) que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não está conseguindo exprimir recta ao mercado financeiro os resultados que vêm obtendo com as políticas econômicas desenvolvidas por ele.
Essa dificuldade, diz, faz com que as medidas acabem tendo uma versão errada e que levam a solavancos porquê a subida suspeição sobre o comprometimento do governo com a responsabilidade fiscal. É o que ocorreu principalmente com o proclamação do ajuste fiscal junto da isenção do Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5 milénio, em novembro do ano pretérito.
“Nós tivemos um problema grave de comunicação. […] Temos que nos comunicar melhor, e venho dizendo isso há muito tempo. O governo tem que ser coerente e resoluto, não podemos deixar brechas para os resultados que queremos atingir”, disse o ministro em entrevista à GloboNews.
Essas brechas a que ele se refere levaram à pressão do mercado pelo incisão de gastos – que acabou sendo desidratado pelo Congresso e que deve ser objectivo de medidas adicionais – e a disparada do dólar que ainda opera supra dos R$ 6.
Ainda de concórdia com Haddad, essa dificuldade de informação acabou se somando a uma sensibilidade – na visão dele – vivida pelo mercado financeiro em todo o mundo, que ainda está apreensivo com as políticas econômicas que efetivamente serão implantadas por Donald Trump em seguida tomar posse na presidência dos Estados Unidos.
E a isso, diz, se somam a desaceleração da China e a estagnação da economia europeia.
“Olhando para o lado externo e para a inflação, fizemos um conjunto de medidas de contenção [de gastos] exatamente para enfrentar esse desafio que apareceu a partir do segundo semestre do ano passado quando o crescimento bateu um patamar que começa a preocupar pela inflação e pelas contas externas”, pontuou o ministro.
Discursos divergentes dentro do governo
Fernando Haddad reconheceu também que há visões distintas dentro do governo sobre quais políticas econômicas devem ser adotadas, mas que já há um esforço para um oração mais uniforme e “mais chapado para não dar margem” a notícias erradas.
“Talvez o tempo de maturação das medidas tenha sido excessivo e gerado expectativas frustradas. […] Teve um problema interno de comunicação do governo e tem um problema externo desafiador, as duas coisas juntas não deram legal. Agora, vamos corrigir”, disse.
Ainda de concórdia com ele, essa correção será sentida ao longo do ano e que o Brasil “está bem posicionado” no cenário econômico mundial provocador.
“Vendo os nossos vizinhos, vendo o que está acontecendo, apesar do cenário externo ainda nebuloso, acredito que o Brasil está bem posicionado. Se souber se beneficiar das vantagens competitivas, com programas bem estruturados para alavancar o desenvolvimento, acredito que podemos chegar bem em 2026, espero que comendo até filé mignon”, brincou o ministro em referência a uma promessa de campanha de Lula de que os brasileiros voltariam a consumir picanha.
Ele ainda pontuou que as projeções para o fechamento das contas públicas de 2024, que estão sendo calculadas, vão indicar um déficit primordial de 0,1% (sem racontar os desembolsos para enfrentamento à tragédia climática do Rio Grande do Sul) e um prolongamento do Resultado Interno Bruto (PIB) de 3,6%.
“Um ano atrás, a previsão do mercado era de 0,8% do PIB. Vamos nos lembrar que era antes do episódio trágico do Rio Grande do Sul que consumiu 0,27% do PIB para atender a população, era 0,8% e vamos terminar o ano com 0,1% do PIB”, completou Fernando Haddad.
Relação com Galípolo
O ministro Fernando Haddad ainda garantiu que o novo presidente do Banco Meão, Gabriel Galípolo, atuará com autonomia e que será normal ter momentos de discordância entre eles.
“O meu papel ali é resolver tecnicamente o problema, é o que eu tentava fazer com Roberto Campos e como eu farei com Gabriel Galípolo. Isso não significa dizer que nós vamos concordar sempre sobre o diagnóstico e o que fazer, mas cada um está no seu papel”, disse.
Para ele, a autonomia dispõe de informações suficientes para tomar as decisões necessárias para a política monetária brasileira, mas que poderá questionar sem interferir na autonomia – assim porquê na relação com Lula.
“Eu posso chegar um dia para o Gabriel: será que vocês estão tomando a decisão correta? Mas a decisão é dele e do colegiado do Copom, eu posso subsidiá-lo com informações, como ele consulta gente do mercado, ele consulta gente do governo, ele consulta gente do setor produtivo. O Banco Central não consulta só os bancos para saber, ele tem um apanhado de informações”, completou.