Dezembro é o mês solene das promessas. Mas, e se, em vez de prometermos sempre as mesmas coisas para o Ano Novo que se anuncia, nós nos comprometêssemos de forma pragmática e verdadeira, por exemplo, com a leitura. Recentemente, em conversa com um companheiro, ele me confidenciou que suas metas de término de ano sempre falhavam, ora porque se esquecia delas, ora porque eram metas tão radicais que, no curso dos dias de janeiro, ele se desanimava e desistia paulatinamente, isso isto é, não de forma abrupta, mas lentamente, talvez para manter um pouco de pundonor diante de sua fraqueza de vontade.
Existe, na psicologia clássica advinda de Santo Agostinho, e depois aprimorada por Santo Tomás de Aquino, Edith Stein entre outros, a diferenciação de nossas forças psicológicas. Segundo esses autores, nossas mentes são feitas, guiadas e acionadas, pelas emoções, vontades e razão. É esse tripé que, ininterruptamente, nos faz escolher e nos viciar em um pouco, tomar decisões e prometer prudências heroicas no curso de nossas vidas.
Uma das coisas que podemos, ao instruir nossas emoções e vontades, é carregar-nos de promessas virtuosas e racionais, e, degrau a degrau, treinar-nos para metas factíveis e realmente engrandecedoras. Uma das promessas possíveis para todos alfabetizados, se bem-feitas, ajustadas, é nos tornarmos, enfim, leitores assíduos. A leitura é um daqueles objetivos extremamente factíveis, que exigem de nós somente livros cuidadosamente escolhidos, interessantes, que despertem a curiosidade e vontade de ler, e, é simples, uma disciplina mínima de concentração. Seria verborrágico para esta pilar enumerar os benefícios da leitura — mas o farei mesmo assim: concentração mais apurada; um pensamento crítico fundamentado; vasto conhecimento do que é a própria existência, o varão e a verdade; enriquecimento cultural; desenvolvimento profundo da imaginação moral; fuga da verdade imediata e, ao mesmo tempo, encontro com uma verdade mais profunda, conectada à história de nossa cultura e das outras mais. Nenhum leitor assíduo que conheci, e olha que conheço muitos, que procura a leitura porquê modo de vida, que, nesse processo, naturalmente adentra nos clássicos da literatura mundial, é uma pessoa fútil. Os leitores têm um proveniente desenlace de ideias e perspicuidade mental muito supra dos que não se importam com essas coisas, e ainda que tudo isso soe um pouco gnóstico, no fundo estou somente falando de desenvolvimento pessoal e procura interessada por subida cultura.
Não estou aqui pregando um elitismo literário, todos sabem porquê abomino essa pompa literária que fazem muitos pensarem que terebrar um livro no metrô, ou tirar uma foto numa poltrona, com um réplica de Dostoiévski na mão, já é garantia de eruditismo perpétuo. Muitos de nossos avós nunca leram, e nutriam uma sabedoria típica daqueles que não liam linhas impressas, mas liam a verdade, observavam com zelo os homens e seus jeitos, faziam da natureza suas enciclopédias, e da paróquia e do bar as suas bibliotecas. Mas, neste item, estou falando daqueles que podem obter, se quiserem, o hábito de acessar o maior repositório de humanidade e cultura já criado, a mais bela das máquinas de conhecimento e autocorreção, os livros.
Em janeiro, você pode se aventurar a fazer essa promessa, e mais importante, colocá-la em prática, você pode separar uns 50 mangos, ir à livraria, ou acessar um site, escolher com zelo, demore o quanto quiser, e, por término, comprar um livro cuja leitura você vai se destinar naquele primeiro mês de 2025. Não ligue para os inteligentinhos, se você quiser ler Transgressão e Lição de Dostoiévski, vá fundo, verá que a profundidade daquele russo é tão absurda que fará você realmente olhar o mundo com outros olhos — é clichê, eu sei, mas de vestuário é isso; mas você também pode comprar É Logo que Acabaa Colleen Hoover, ou A Livraria da Meia-Noitede Matt Haig, e está tudo muito, vá em frente e leia.
Se você realmente não lê zero, ou lê muito pouco, logo notará que seus sentidos, treinados e viciados em telas, sua vontade, acostumada a serotoninas rápidas, sua mente, desfocada por uma verdade que te pede uma fragmentação de sua percepção, tentarão tirar seu foco do livro, levando-o para todos os lugares possíveis, à memorial da morena, a um mosquito que passeia em cima do fogão, etc., caberá somente a você domar essas emoções e tensões mentais a término de encaminhar forçosamente sua atenção à leitura. É difícil somente por qualquer tempo, depois fica mais fácil e, por término, prazeroso, e quando chegar a isso, a leitura dificilmente sairá da sua vida novamente. Pois a leitura é, também, um entretenimento, porém, um entretenimento profundo e edificante, pois ela faz mais que te distrair de uma verdade cansativa e chata, ela incute de forma linear percepções e noções de milénio vidas, milénio pontos de vistas que, por mais devotado que você seja a observações e conversas diárias com estranhos, nunca poderia tê-los com tantas nuances e detalhes porquê num livro.
Por término, faça sim o regime do qual tanto precisa, e foque nisso com assiduidade, monte seu cronograma de dietas, vá ao nutricionista e, sem morosidade, pague a primeira mensalidade da liceu; mas também malhe a sua mente, finalmente, você não é somente corpo, mas corpo, mente e espírito, e, se for para melhorar, que melhore por inteiro. Tornar-se um leitor é muito provável, é mais fácil, aliás, que perder 20 quilos em 6 meses, vá por mim, eu tenho lugar de fala. Pois muito, sem mais delongas, já sabe qual livro lerá em janeiro?
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