Não é somente quem planeja viajar para o exterior nas férias que sentirá o impacto da subida do dólar, que subiu 7% em somente dois meses e permanece supra de R$ 6 desde o término de novembro, com somente uma exceção – e de poucas horas – de lá para cá. O impacto é súbito e direto no bolso, apontam especialistas ouvidos pela Jornal do Povo.
“Muitas vezes, a associação feita é: ‘Eu não estou viajando para fora, quem faz isso é rico, e só eles vão reclamar porque o câmbio está mais caro’. Isso é verdade, mas precisamos pensar também no impacto indireto, que é muito maior e afeta o dia a dia do brasileiro, deixando tudo mais caro”, explica Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Ele lembra que muitos itens consumidos no Brasil contêm componentes importados ou são totalmente produzidos no exterior, o que faz com que os custos aumentem.
A subida nos preços é mais sentida pela população de renda mais baixa. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nos domícilios com rendimento mensal subalterno a R$ 3.158,99, os preços subiram mais de 5% nos 12 meses encerrados em novembro, supra da inflação solene de 4,87% no período.
Dólar em subida: comida mais faceta
Confira:
Os provisões são um dos segmentos mais afetados pela desvalorização do real. Dados do IBGE mostram que, nos 12 meses até novembro, a alimento no morada subiu 8,41%, a maior subida para o período desde fevereiro de 2023.
Apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores de provisões do mundo, muitos produtos, porquê soja e derivados, são negociados internacionalmente e sofrem com a valorização do dólar. Outros itens, porquê o trigo, dependem de importações, intensificando o aumento de preços.
Segundo o Núcleo de Estudos em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-Esalq/USP, o término da safra vernáculo de trigo levou os compradores a recorrerem mais aos fornecedores estrangeiros.
As cotações elevadas do dólar pressionam os custos de importação. “Como a oferta e a qualidade do produto estão menores nesta safra no Brasil, a necessidade de importação tende a aumentar”, destaca o meio de pesquisas.
As carnes também seguem essa tendência: nos 12 meses até novembro, os preços aumentaram 15,43%, a maior subida desde outubro de 2021. Esse movimento é impulsionado pela oferta reduzida de animais para abate e pelo aumento das exportações. A tendência é de que esse cenário continue nos próximos meses.
“O aquecimento das exportações reduz a quantidade de carne disponível no mercado interno, pressionando os preços para cima”, explica Anna Fercher, head de Customer Success e Insights da Neogrid. Mesmo assim, 70% da mesocarpo produzida no Brasil fica para consumo interno.
Até Papai Noel vai ser prejudicado
A ceia de Natal não está imune às pressões do dólar. Apesar de o bacalhau apresentar queda de preço em relação ao ano pretérito, outros componentes da cesta natalina registraram aumentos significativos.
Matheus Dias, economista do FGV Ibre, destaca: “Embora o bacalhau esteja mais barato que no ano passado, quando analisamos os outros componentes da cesta, observamos que a maioria apresentou aumentos expressivos”.
“A combinação do dólar mais elevado por vários meses com uma produção reduzida de alguns alimentos ampliou o impacto no orçamento do consumidor. O azeite ilustra bem essa situação, pois ainda reflete os efeitos das quebras de safras anteriores na Europa e, como nossa produção nacional é insuficiente para atender à demanda, dependemos de importações que, com o dólar mais alto, acabam encarecendo o produto”, explica.
Comprar passagem aérea de última hora vai transpor muito custoso
Quem deixou para comprar passagens aéreas de última hora deverá pagara muito mais custoso. Em novembro, os preços subiram 22,65%, segundo o IBGE, e a tendência é de que essa subida continue.
Um estudo do Livres, um movimento suprapartidário em resguardo do liberalismo, revela que os custos das companhias aéreas brasileiras são majoritariamente dolarizados, incluindo despesas com leasing de aeronaves, manutenção e combustível.
O querosene de aviação (QAV), que representa muro de 40% dos custos operacionais das companhias, também teve grandes aumentos, com subida de 50% desde 2020, impulsionada por crises internacionais, porquê a guerra na Ucrânia.
Economia aquecida ajuda a manter preços elevados
Um fator que contribui para manter os preços elevados é a economia aquecida. Pelo quarto ano ininterrupto, a economia brasileira deve crescer a um ritmo próximo ou superior a 3%. O ponto médio (mediana) das expectativas para a expansão do PIB neste ano estava em 3,42% no início desta semana, de contrato com levantamento do boletim Focus, do BC.
Cruz lembra que, nesse cenário, o repasse é mais rápido, porque o mercante sente que a população está demandando seus produtos e ele pode aumentar um pouco o preço para comportar esse câmbio. “O impacto inflacionário é maior em momentos de economia mais aquecida”, diz.
O Banco Meão apontou, em seu último Relatório de Inflação, que a recuperação econômica e o aumento da demanda por bens duráveis podem gerar pressões inflacionárias, mormente se a oferta não escoltar a demanda.
Uma estimativa da poder monetária aponta que um aumento de um ponto percentual na renda resulta em uma subida similar no consumo de duráveis.
Mesmo nesse cenário mais inflacionário, a Kantar, consultoria de estudo de mercado, projeta manutenção do prolongamento do consumo em 2025, embora em ritmo menor. O Brasil deve retrair o ritmo da América Latina.
“Apesar do crescimento mais lento, a demanda consistente em trimestres seguidos reflete a recuperação socioeconômica na maior parte da região e uma nova forma de comprar dos latinos”, diz a diretora de desenvolvimento de mercados para a América Latina, Marcela Botana. Na prática, isso se traduz em carrinhos de compras maiores (subida de 11% no terceiro trimestre de 2024 em verificação ao anterior) e na priorização de cestas básicas.
Impactos no cotidiano das pessoas
- Subida nos preços de produtos importados: Eletrônicos, roupas, cosméticos e outros itens importados ficam mais caros, afetando o consumo.
- Aumento no dispêndio de viagens internacionais: Passagens aéreas, hospedagem e outros custos em dólar tornam viagens ao exterior menos acessíveis.
- Encarecimento de medicamentos e insumos de saúde: Produtos farmacêuticos importados podem tolerar reajustes de preço.
- Inflação nos provisões: Produtos alimentícios com insumos importados, porquê trigo (base para pão e massas), ficam mais caros.
- Pressão sobre o dispêndio de vida: A subida do dólar eleva a inflação universal, corroendo o poder de compra das famílias.
Impactos nas empresas
- Aumento no dispêndio de produção: Indústrias que dependem de insumos importados, porquê químicos e peças de maquinário, sofrem pressão nos custos.
- Dívidas em moeda estrangeira: Empresas endividadas em dólar enfrentam maior dificuldade em remunerar ou renegociar seus débitos.
- Ganhos para exportadores: Empresas exportadoras, porquê as do agronegócio, se beneficiam com receitas maiores em reais.
- Dificuldade em repassar custos: Empresas que não conseguem ajustar preços ao consumidor final podem ter margens de lucro reduzidas.
Impactos na economia vernáculo
- Aumento do preço dos combustíveis: O petróleo é cotado em dólar, e sua subida pressiona o preço da gasolina e do diesel, impactando toda a masmorra produtiva.
- Subida na inflação: A desvalorização do real aumenta o dispêndio de produtos e serviços indexados ao dólar, pressionando o índice de preços.
- Impacto no endividamento público: A dívida externa brasileira em dólar cresce em termos de reais, complicando o cenário fiscal.
- Redução de investimentos externos: O dólar mais custoso pode refletir instabilidade econômica, afastando investidores estrangeiros.