O Comitê de Política Monetária (Copom) destacou, na ata de sua última reunião, uma deterioração suplementar no cenário de inflação, que se evidencia, por exemplo, pela disparada dos preços dos provisões. A ata foi divulgada nesta terça-feira, 17, pelo Banco Medial.
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“O cenário de inflação de curto prazo se deteriorou. Os preços de alimentos se elevaram de forma significativa, em função, dentre outros fatores, da estiagem observada ao longo do ano e da elevação de preços de carnes, também afetada pelo ciclo do boi”, diz a ata. O texto afirma que o aumento dos provisões “tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”.
Os membros do comitê concluíram que “os fatores de curto prazo, como a taxa de câmbio e a inflação corrente, assim como os de médio prazo, como o hiato do produto e as expectativas de inflação, sofreram deterioração significativa”.
Segundo o Copom, esse agravamento exige uma postura ainda mais contracionista na política monetária.
O que a ata do Copom falou sobre a Selic
O Copom reiterou, na ata de sua última reunião, que o tamanho totalidade do ciclo de aumento da taxa Selic será determinado pelo seu “firme compromisso com a convergência da inflação à meta”. Esse compromisso já havia sido sinalizado no transmitido da última quarta-feira, 11, quando o Banco Medial aumentou a Selic em 1 ponto porcentual, de 11,25% para 12,25% ao ano, e indicou mais dois ajustes de igual magnitude.
Essa orientação (“guidance”) estabelece o rumo para as duas próximas decisões, que serão as primeiras sob a presidência de Gabriel Galípolo no Banco Medial. Também marcará o momento em que, pela primeira vez, o Copom será formado majoritariamente por indicados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a inclusão de Nilton David (Política Monetária), Izabela Correa (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) e Gilneu Vivan (Regulação) no colegiado.
Lula, petistas e aliados, desde o início do governo, têm criticado duramente o atual presidente do Banco Medial, Roberto Campos Neto, indicado no governo de Jair Bolsonaro. Ele deixará o incumbência no termo do ano, depois de exercitar um procuração de quatro anos.
Entretanto, as decisões do Copom de gabar os juros têm sido tomadas por unanimidade em razão da subida da inflação, gerada em grande segmento pelo excesso de gastos do governo Lula e carência de um pacote consistente de golpe de despesas.
Aperto monetário
Na ata divulgada nesta terça-feira, 17, o Comitê reafirmou que a magnitude do ciclo de aperto monetário será guiada pelo seu compromisso de manter a inflação dentro da meta e dependerá de fatores uma vez que a dinâmica da inflação, principalmente os componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, além das projeções de inflação, expectativas de inflação, hiato do resultado e balanço de riscos. Esse texto foi mantido do transmitido anterior.
O Copom também apresentou, na ata, as mesmas projeções de inflação do transmitido. O Comitê espera que o IPCA atinja 4% no aglomerado de quatro trimestres até o segundo trimestre de 2026, que é o horizonte relevante para a política monetária. Essa projeção está supra do meio da meta de 3% e é superior à estimativa do último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que era de 3,6%. O próximo RTI será divulgado na quinta-feira, 19.
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As estimativas para o IPCA incluem um aumento de 3,8% para os preços livres e de 4,6% para os preços administrados, conforme já indicado no último transmitido. O Banco Medial projeta que o IPCA termine 2024 em 4,9%, supra do teto da meta, que é de 4,5%. Para 2025, a inflação esperada é de 4,5%. As projeções incluem altas de 5,0% nos preços livres e de 4,6% nos administrados leste ano, e para 2025, o Copom espera uma elevação de 4,5% nos preços livres e administrados.
Todas as projeções consideram um cenário de referência, com a trajetória de juros derivada do Boletim Focus e bandeira virente para robustez elétrica em dezembro de 2024 e 2025. O câmbio começa em R$ 5,95 e segue a paridade do poder de compra (PPC), enquanto os preços do petróleo acompanham a curva futura nos primeiros seis meses e depois aumentam 2% ao ano.