Em entrevista à revista Breezaespecializada em cultura canábica, Frei Betto defendeu a legalização da maconha e confessou já ter participado de um luminar do Santo Daime, onde bebeu a substância psicodélica ayahuasca. A conversa foi divulgada nesta quinta-feira, 12.
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A relação de Frei Betto com o tema das drogas é marcada por um drama familiar. Ele contou porquê lidou com a submissão química de seu irmão mais novo. “Sofri mais nesses cinco anos do que nos quatro de cadeia, porque você, quando lida com uma pessoa dependente química, tem que dar a ela muito, muito amor”, afirmou.
Ele relatou que, por orientação de sua terapeuta, aprendeu a mourejar com os momentos mais críticos de seu irmão, o que incluía crises de sofreguidão e episódios de agressividade. “Ela falou: ‘Não, Beto, você tem de reagir, reage à altura, porque ele só vai te respeitar se você reagir à altura’. Então, aprendi a bater com amor.”
Frei Betto detalha experiência com ayahuasca
Confira:
Apesar de nunca ter usado drogas recreativas, Frei Betto teve uma experiência única com o Santo Daime, influenciado por alguns religiosos. Ele descreveu porquê, durante uma cerimônia em Belo Horizonte, teve visões psicodélicas.
“Abri o olho e via Machu Picchu na minha frente”, confessou. “Depois, quando voltei à total tranquilidade e de consciência, vi que realmente do outro lado da montanha havia um grupo de casas, mas eram mansões. Essas mansões, na minha visão, foram reduzidas a casinhas peruanas e, por outro lado, o céu era vangoguiano”, disse o líder religioso, em referência às obras do pintor holandês Vincent van Gogh.
Frei Betto ainda afirmou proteger a legalização das drogas sob controle do Estado, porquê forma de combater o tráfico de drogas. “Vejo as experiências de países como Portugal, acho muito positivas, mas o Estado deveria controlar o uso recreativo”, disse.
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Ele destacou que as políticas repressivas somente perpetuam a violência e fortalecem o tráfico. Ao reportar sua vivência em Cuba, ele observou porquê o governo lugar adota uma abordagem rígida para combater o narcotráfico, mas acredita que, em um horizonte próximo, o país possa seguir na adoção do uso medicinal da Cannabis.
Sobre o uso recreativo, Frei Betto estabeleceu limites claros: “Se me pedisse para assinar alguma coisa de uso recreativo responsável de cocaína, ópio e heroína, eu não assinaria, de jeito nenhum, mas assinaria de marijuana”.
Posições são contrárias à teoria da Igreja Católica
O posicionamento de Frei Betto frente à descriminalização das drogas não encontra respaldo nos ensinamentos oficiais da Igreja Católica, segundo o jornalista Bernardo Küster, que classificou a fala do religioso porquê “absolutamente irresponsável”. O Catecismo da Igreja Católica, em seu número 2291, discorre sobre o tema.
“O uso de estupefacientes causa gravíssimos danos à saúde e à vida humana”, diz o Catecismo. “A não ser por prescrições estritamente terapêuticas, o seu uso é uma falta grave. A produção clandestina e o tráfico de drogas são práticas escandalosas, e constituem uma cooperação direta, pois incitam a práticas gravemente contrárias à lei moral.”
“Se ele se diz frei da Igreja, deve seguir o que a Igreja diz”, afirma Küster, diretor do documentário Eles Estão no Meio de Nós. O jornalista é um estudioso da Teologia da Libertação, ramo de esquerda surgido na Igreja Católica da América Latina que teve segmento de seus líderes condenada pelo Vaticano.
Küster ainda considerou as consequências políticas de uma verosímil liberação da Cannabis. “No momento em que se legaliza as drogas, anistia-se todos aqueles que foram culpados por tráfico, produção ou comércio, etc., envolvidos no tráfico”, diz. “Se não há lei mais que condene, não tem crime.”
Assim, os atuais produtores de maconha — o que inclui integrantes do delito organizado — se tornariam “grandes empresários”. “Você vai anistiar, regularizar e colocar na vida pública bandidos notórios”, considera Küster. “Será que é isso que ele quer?”
Frei Betto foi contato das Farc no Brasil, segundo líder colombiano
O jornalista ainda recorda que, em agosto de 2003, o comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Raúl Reyes, declarou que um de seus contatos no governo brasiliano era Frei Betto, junto do sociólogo Emir Sader. Na ocasião, o religioso era assessor próprio de Lula, ainda em seu primeiro procuração presidencial.
As Farc são uma guerrilha criada nos anos 1960 e, embora atuem com aspirações políticas, tiveram boa segmento de seu financiamento ligado ao narcotráfico na Colômbia e em toda a América Latina. “Quando diz isso, está dando uma sinalização muito assustadora”, diz Bernardo. “Será que aquelas velhas ligações com as Farc foram desfeitas?”
“O Frei Betto a gente sabe: é marxista, revolucionário, um dos grandes promotores e agentes da Teologia da Libertação, fez contato do Lula com o Fidel Castro, ajudou a fundar o Foro de São Paulo, foi organizador das comunidades eclesiais de base, basicamente ajudou a fundar o PT”, resume.
Leia também: “O perigo da liberalização das drogas para consumo próprio”, cláusula de Roberto Motta publicado na Edição 168 da Revista Oeste