Que a pandemia da Covid-19 foi um repto para o mundo todo, ninguém tem incerteza. O que muitos não sabem é que foi justamente neste período que muitas pessoas se reinventaram e deram novos rumos à vida profissional. Um bom exemplo é o par Welizângela Prates, (44) e Geraldino Prates, (48) e da Clenir Aparecida Zeniboni, (56).
A história das duas famílias é muito parecida. Sem nenhuma intimidade com o meio rústico, quando deram conta estavam totalmente envolvidos na produção de ovos caipiras. A Welizângela e o Geraldino, depois rodar o Brasil abrindo lojas de uma rede internacional de supermercados, moraram na Grande Vitória e atuavam na superfície de designer de interiores.
Isso até decidirem se mudar “temporariamente” para Vila do Riacho, no litoral de Aracruz, onde a família tinha um sítio até logo posposto. A saúde do fruto Vitor (25), que é asmático, foi a motivação para mudança. Com pânico de que ele contraísse a doença, o par resolveu se isolar.
Depois um ano trabalhando em home office e sem expectativas para o termo da pandemia, Geraldino resolveu que era preciso fazer o sítio produzir. “Ele comprou 15 pintos caipiras e colocou em um banheirinho sem uso, depois mais 70. Daí a pouco levantou um galpão. Quando me dei por conta estava com 500 galinhas e não dava conta de vender os ovos de tanta procura. Realmente a pandemia foi um divisor de águas nas nossas vidas”, conta Welizângela.
Atualmente a granja Riacho, gera cinco empregos diretos e indiretos, tem três galpões, quatro milénio aves, duas milénio em produção e as demais na recria, e produz em média de 50 milénio ovos por mês. A família já investiu mais de 700 milénio reais, na construção dos galpões, e na compra de ferramentas e equipamentos.
Para os próximos anos a intenção é edificar mais dois galpões. “Queremos crescer, sabemos que tem muito mercado e espaço para muito crescimento, mas estamos indo devagar. Todo nosso processo é manual, nada mecanizado, e esbarramos na falta de mão de obra. Nós também não queremos perder a essência da galinha caipira que coloca ovos no ninho como na casa da vovó”.
Com a Clenir o processo foi o mesmo. Dona de uma loja de noivas em Vitória, durante a pandemia se mudou para Rio Quartel de Cima, no interno de Linhares, e teve a teoria de principiar a vender ovos caipiras. Hoje, a agroindústria Ovos Caipiras da Nona, criada por ela, possui tapume de 2.200 aves, e a produção diária gira em torno de 900 ovos.
Os ovos são comercializados em supermercados, feiras livres, hortifrutis, açougues, entregue em estância, além de atender consumidores locais. Assim porquê Welizângela, Clenir também pensa em expandir o empreendimento.
Paixão pela avicultura
Contador, consultor financeiro e produtor rústico, Joemio Oliveira Matos (60), de Pinheiros, no Setentrião do Estado, resolveu investir na geração de penosa caipira.
“Há dois anos e meio fiz uma consultoria sobre a viabilidade financeira para implantação de uma granja de galinha caipira. Na época, o negócio não era viável, mas me apaixonei pela avicultura e comecei estudar o assunto. Pesquisas mostram que as pessoas gostam de galinha caipira, mas não acham para comprar, então decidi apostar no negócio”, conta.
Joemio estudou sobre avicultura, buscou conhecimento em São Paulo, e participa de grupos de pessoas do segmento. Há seis meses o produtor inaugurou a granja Ki-Kaipira. O empreendimento, que começou com 500 aves, atualmente já tem milénio animais. Mas a intenção é chegar a 8 milénio aves. Para isso, o produtor destinou uma superfície de 20 milénio metros quadrados e fez um investimento de tapume de R$ 300 milénio.
A geração é no sistema penosa livre, criadas no piquete, tipo manada. Com 120 dias as aves estão prontas para o abate. “Objetivo é vender as aves para corte e ter uma linhagem poedeira para vender as matrizes. Vender as frangas com 60 dias em média, que é quando começa a botar, para quem deseja criar galinhas”.
Por enquanto, o abate será feito por um frigorífico de São Mateus, cidade vizinha. Depois o abate as aves retorna para Pinheiros, onde serão comercializadas por Joemio. Porém, para surpresa do produtor, a procura para comprar as aves vivas é grande. “Muitas pessoas me procurando querendo comprar aves vivas. Feirantes, pessoas do interior que querem criar galinha. Estou surpreso”.
Para os próximos meses a intenção é ter um mini abatedouro e ele mesmo derrotar as aves.
Falta de base
Clenir começou sua produção com 50 aves, mas não teve sucesso. Sem nenhum conhecimento sobre o manejo, a maior segmento dos animais morreu. Foi aí que decidiu ir em procura de ajuda.
“O começo foi muito difícil. Não achava zootecnista nem particular para me atender, o único que achei era especialista em aves de corte. Os órgãos não estão preparados e deixam a desejar, o Incaper não tinha zootecnista com conhecimento em aves na parte comercial para dar suporte. É um jogo de empurra, ninguém consegue te ajudar. Rodei muito até conseguir, enquanto isso fomos aprendendo na raça”, conta a empreendedora.
A falta de profissionais e de base dos órgãos públicos também foram desafios para a implantação da Granja Prates. “Viemos de uma área totalmente diferente e não sabíamos nada. Procuramos veterinário e ninguém queria atender a gente. Enquanto isso, fizemos muita coisa errada e perdemos muitas galinhas. Estamos totalmente abandonados por sermos pequenos”, enfatiza Welizângela.
Com Joemio não foi dissemelhante. “Não achei ninguém no Estado para dar consultoria sobre o assunto, precisei buscar em Minas Gerais e Pernambuco. Também não achei ninguém registrado que trabalha com galinha de corte como eu queria fazer”.
Segundo informações da assessoria de prensa do Incaper, o órgão tem uma zootecnista referência técnica em avicultura caipira. Para ter chegada ao profissional os interessados devem procurar o escritório do Incaper do seu município. O Senar informou que não tem o Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) em avicultura devido à falta de prestadores de serviço especializados na superfície.
De negócio com dados do Instituto de Resguardo Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), o Estado tem somente uma agroindústria da categoria registrada no Serviço de Inspeção Agroindustrial de Pequeno Porte (Siapp), órgão responsável pelo registro e fiscalização de agroindústrias de pequeno porte em todo o Estado.
Já no Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar de Pequeno Porte (Susaf/ES), são oito agroindústrias registradas.