O governo da Bolívia afirmou nesta segunda-feira (28) que uma suposta tentativa de assassinato denunciada pelo ex-presidente Evo Morales (2006-2019) no domingo foi um “teatro” e que disparos contra policiais partiram do veículo onde estava o ex-mandatário.
Morales denunciou que foi alvo de um atentado enquanto se dirigia da cidade de Villa Tunari para Lauca Ñ, no departamento de Cochabamba, para fazer seu programa semanal de rádio.
Ele alegou que os autores dos disparos estavam em dois ou três veículos e que uma mulher que estava com ele gravou imagens. O ex-presidente disse que seu motorista ficou ferido e que o atual governo da Bolívia estaria interessado em “eliminá-lo”.
Nesta segunda-feira, segundo informações do jornal El Deber, o ministro do Interior, Eduardo del Castillo, disse que a denúncia de Morales era falsa.
“Eles fizeram disparos de arma de fogo a partir daquele veículo contra a integridade dos policiais e dos veículos que estavam sendo utilizados no combate ao tráfico de drogas. Aquele veículo, após serem realizados os disparos, atropelou um policial, que caiu ao chão, [depois] a viatura deu marcha à ré e tentou passar novamente por cima deste agente”, alegou Castillo numa coletiva de imprensa.
“Senhor Morales, por que o senhor edita seus vídeos e por que não mostra como atiraram na polícia em vez de editar vídeos com efeitos especiais? Ninguém acredita que uma pessoa possa dirigir a 170 quilômetros por hora sem pneus porque supostamente a polícia teria disparado [contra os pneus do veículo]”, disse o ministro.
“Gostaria de saber quem pode dirigir neste universo com um tiro na nuca e depois passar para outro veículo [em referência ao motorista de Morales]. Senhor Morales, ninguém acredita no teatro que vocês fizeram, mas vocês vão ter que responder na Justiça pelo crime de tentativa de homicídio, essa denúncia já foi apresentada ontem”, afirmou Castillo.
A troca de acusações entre Morales e o governo do atual presidente, Luis Arce, se tornou comum nos últimos dois anos.
Ambos integram o partido Movimento ao Socialismo (MAS), rachado devido às ambições de ambos de serem o candidato da legenda na eleição presidencial do ano que vem.
O líder cocaleiro acusou seu afilhado político de corrupção e de se desviar dos preceitos socialistas do MAS. Em outubro de 2023, Arce foi expulso do partido no mesmo congresso da legenda em que Morales foi aclamado candidato à presidência.
Meses depois, o Tribunal Constitucional da Bolívia decretou a inelegibilidade de Morales, apontando que o ex-presidente não poderia mais se candidatar por já ter ocupado a presidência por dois mandatos.
Morales quer que o congresso em que foi indicado como candidato do MAS seja reconhecido. No dia da chegada de uma marcha a La Paz em setembro, ele deu um ultimato de 24 horas para que ministros de Arce fossem demitidos, mas depois desconversou e disse que o prazo era para que o atual presidente resolvesse a escassez de combustíveis na Bolívia.
Em junho, após uma mobilização militar frustrada contra Arce, o comandante que coordenou a ação disse que se tratava de um “autogolpe” para gerar apoio ao presidente. Morales disse concordar com essa versão.
Este mês, o ministro da Justiça da Bolívia, Cesar Siles, anunciou que Morales está sendo investigado por estupro de vulnerável e tráfico de pessoas.
Ele disse que o ex-presidente é suspeito de ter estuprado uma adolescente de 15 anos em 2016. A vítima engravidou e a criança teve o nome de Morales registrado como pai na sua certidão de nascimento, afirmou Siles.
O ex-presidente se diz vítima de perseguição judicial, orquestrada por Arce, e afirma que o caso já foi investigado e arquivado em 2020.
Na mesma semana, integrantes do grupo do ex-presidente dentro do MAS anunciaram que uma mulher que diz ter sido vítima de assédio e abuso de poder por parte de Arce apresentou denúncia contra o atual mandatário da Bolívia.