O palco de uma casa de eventos no bairro Santa Felicidade, na capital paranaense, estava lotado com dezenas de políticos. Estavam o governador, o prefeito e alguns vereadores. Estava lá também um ex-governador, um dos mais celebrados da história do Paraná. Paulo Pimentel, então, foi chamado e ovacionado. Pegou o microfone e pressagiou: “não tenho dúvida de que vai acontecer”. E aconteceu, pouco mais de dois meses após aquele 23 de agosto de 2024. O neto dele, Eduardo Pimentel, se tornou o prefeito de Curitiba.
Ele estava emocionado ao ouvir as palavras vindas do avô. Pudera, afinal foi nele em que se espelhou quando decidiu ingressar na vida política. “Ele me ensinou sobre honestidade, caráter, trabalho e grandes realizações”, disse certa vez à Gazeta do Povo. E foi o avô que o apresentou para o mundo político em 2010, quando disputou uma vaga de deputado estadual. Naquele momento, os 20.536 votos não foram suficientes para conquistar a cadeira no Legislativo do Paraná. Bem menos que os cerca de 529 mil votos recebidos neste domingo (27), 14 anos mais tarde.
Filho de Claudio Slaviero e de Isabel Pimentel, falecida em 2016, Eduardo Pimentel nasceu em Curitiba no dia 21 de setembro de 1984. Com 40 anos, é casado com Paula Mocellin e pai de três filhos: Luca, Eduarda e Leonardo. Torcedor do Paraná Clube, começou a trabalhar aos 16 anos nas empresas de comunicação do avô, como o jornal O Estado do Paraná e a TV Iguaçu, atual Rede Massa. Formou-se em Administração e fez pós-graduação em Agronegócios pela Universidade Positivo, além de ter o título de especialista em Cidades Inteligentes pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Preparado” por Greca, vice-prefeito precisou mudar a comunicação no meio da campanha
Eduardo Pimentel chega ao Palácio 29 de Março após quase oito anos como vice-prefeito de Rafael Greca (PSD). Um vice “incansável e leal”, segundo o ainda prefeito. Ao longo de boa parte do mandato de Greca, a orientação nos corredores da prefeitura era que Pimentel passasse de forma quase “invisível” para não ofuscar o nome de Greca, o que gerava uma certa preocupação do quanto o vice seria de fato conhecido pela população quando chegasse a hora de disputar a eleição e manter a sucessão do grupo político.
Já em 2024, nos meses que antecederam a campanha eleitoral e durante o período de afastamento temporário de Greca do comando da cidade, a maioria absoluta das divulgações oficiais da prefeitura então evidenciavam à exaustão o nome de Pimentel.
O período como vice de Greca foi utilizado de forma bastante enfática como mote de campanha de Pimentel, especialmente no primeiro turno, ao se lançar como o candidato que estava “preparado” para assumir a prefeitura de Curitiba. O sobrenome Pimentel foi praticamente substituído. Eduardo Pimentel se transformou temporariamente em Eduardo Preparado.
A estratégia estava azeitada e o cenário no início da campanha não dava a impressão de que haveria percalços pelo caminho. Ainda mais pela aliança formada por oito partidos, incluindo o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro e do candidato e agora vice-prefeito eleito Paulo Martins — só não conseguiu convencer Ney Leprevost a compor a chapa.
Representante de centro-direita e da continuidade, o adversário que poderia assustar seria Luciano Ducci (PSB), mas pela rejeição à esquerda na capital paranaense, o máximo que poderia conseguir era levar a disputa para o segundo turno. Mas foi a própria direita que avançou ao segundo turno com Pimentel. Direita também representada por Cristina Graeml (PMB), jornalista e candidata por um partido nanico, sem tempo de televisão e acesso a fundo partidário. Surpreendentemente, ela cresceu na reta final do primeiro turno, garantindo emoção em um pleito que parecia já ter vencedor com folga.
A entrada da adversária no jogo forçou uma mudança radical na estratégia de campanha de Pimentel. O bom moço, gestor, de trato fino, deu lugar a um candidato mais visceral, que sentiu a necessidade de se impor, que tinha a necessidade de atacar para voltar a ser ouvido. “Arrogante” e “ventiladora de desinformação” foram algumas das formas com que ele passou a se dirigir à adversária.
Eleito prefeito, agora Pimentel retorna ao cargo de vice pelos próximos dois meses. Tempo em que vai definir como será o seu governo, se olhando para o exemplo do avô Paulo Pimentel, do seu professor Rafael Greca ou de seu amigo Ratinho Junior. E mesmo de Beto Richa, responsável pelos primeiros passos dele na política.
Beto Richa abriu as portas para Eduardo Pimentel na prefeitura e no governo do Paraná
O avô Paulo Pimentel foi quem fez o prefeito eleito se interessar por política, mas foi o também ex-governador e ex-prefeito de Curitiba, Beto Richa, que o colocou dentro do jogo político. O primeiro cargo cedido por Richa a Eduardo Pimentel na administração pública foi o de diretor de marketing da Fundação Cultural de Curitiba (PCC), em 2009. Ficou pouco tempo, já que precisou sair do cargo para concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), não sendo eleito.
Já como governador, o tucano o levou para a diretoria agrocomercial das Centrais de Abastecimento do Paraná (Ceasa). E depois, o transferiu para dentro do Palácio Iguaçu, como subchefe da Casa Civil do governo do Paraná. Com a eleição em Curitiba batendo à porta em 2016, Richa apostou em Pimentel como o nome do PSDB para compor a chapa de Rafael Greca, na época filiado ao PMN.
Jovem, com então 32 anos, Pimentel tinha o perfil ideal no momento para fazer o equilíbrio com Greca, ex-prefeito da cidade e que tentava voltar ao Palácio 29 de Março — em 2012 havia ficado em quarto lugar no pleito vencido por Gustavo Fruet. Em 2016, entretanto, a dupla foi ao segundo turno para vencer Ney Leprevost, então no PSD e apoiado por Ratinho Junior, que na época era secretário no governo de Richa.
“Melhor vice do mundo”: quase sete anos longe dos holofotes
Tão logo tomou posse como vice-prefeito, Pimentel foi nomeado secretário municipal de Obras Públicas, acumulando essa função com a de vice. O tempo dele na pasta durou dois anos, interrompido para permitir que o irmão Daniel Pimentel Slaviero assumisse a presidência da Copel, a Companhia Paranaense de Energia, por causa da lei das estatais que impedia a nomeação de parentes de pessoas que estão em cargos do primeiro escalão.
Passados quatro anos da primeira gestão, a dupla Greca-Pimentel foi reeleita com folga, com 59,74% dos votos válidos — o segundo colocado, Goura (PDT), ficou com apenas 13,29%. No meio do mandato, em 1º de janeiro de 2023, Pimentel foi nomeado pelo governador Ratinho Junior como secretário das Cidades do Paraná, novamente acumulando duas funções.
Apesar das secretarias que assumiu na prefeitura de Curitiba e no governo do estado, Pimentel sempre esteve muito discreto, à sombra de Greca e de Ratinho Junior. A imagem dele pouco aparecia, exceto em eventos maiores de inaugurações, como já é praxe na administração. E quando tinha a oportunidade, o prefeito não se acanhava em elogiar o seu vice. “É o melhor vice-prefeito do mundo”, disse várias vezes.
Esse cenário começou a mudar em 2023, ano em que as articulações para que ele se candidatasse a prefeito no ano seguinte se intensificaram, principalmente por parte do governador. Como um possível nome para manter o grupo político no poder na capital paranaense, Pimentel passou a ser uma figura mais presente no dia a dia da agenda da prefeitura e nos materiais de divulgação.
O site da prefeitura que, por anos, dedicou espaço quase exclusivo para Rafael Greca, voltou às câmeras para o vice-prefeito. Em qualquer obra ou inauguração, ele estava lá. Mesmo em eventos beneficentes e de classe, entrega de prêmios ou para falar sobre alguma ação da prefeitura, Pimentel surgia. De um vice discreto, ganhou relevância quase que da noite para o dia.
Em muitas dessas situações, Pimentel estava como prefeito interino. Isso porque a agenda de Greca entre 2023 e início de 2024 se intensificou com viagens ao exterior. Estados Unidos, Portugal, Espanha. Era o prefeito viajar que o vice-prefeito assumia e saía pela cidade para, de maneira ainda não oficial, se apresentar à população curitibana.