Especialistas na área de desenvolvimento pessoal, os escritores Héctor García e Francesc Miralles viajaram para Okinawa, no Japão, com o objetivo de desvendar um “enigma”: por que a proporção de pessoas com cem anos ou mais naquele arquipélago chega a 24 para cada 100 mil habitantes?
O resultado dessa investigação é o livro Ikigai: O Segredo Japonês para uma Vida Longa e Feliz, que acaba de ganhar uma reedição no Brasil pela editora Intrínseca.
A seguir, você lê um recorte da obra em que os autores explicam o conceito de igikai, fundamental para entender a longevidade do povo de Okinawa, e elenca outras regiões do mundo onde uma parte significativa da população ultrapassa a marca dos 90 anos.
Segundo os japoneses, todo mundo possui um ikigai, o que um filósofo francês traduziria como raison d’être, razão de ser. Alguns encontraram seu ikigai e têm consciência dele, outros o carregam dentro de si, mas ainda o procuram.
O ikigai está escondido em nós, e é necessária uma investigação paciente para chegar até o mais profundo de nosso ser e encontrá-lo. De acordo com os nativos de Okinawa, a ilha com maior índice de centenários do mundo, o ikigai é a razão pela qual nos levantamos pela manhã.
Ter um ikigai claro e definido, uma grande paixão, dá satisfação, felicidade e significado à vida.
Uma das coisas mais surpreendentes de se notar ao viver por algum tempo no Japão é como as pessoas continuam ativas, inclusive depois de se aposentarem. Na verdade, um grande número de japoneses nunca se “aposenta”, mas sim segue trabalhando naquilo de que gosta, a menos que a saúde não permita.
Na prática, não existe na língua japonesa uma palavra que signifique “aposentar-se” no sentido de “retirar-se para sempre”, como temos no Ocidente. Tal como afirma Jan Buettner, jornalista da National Geographic que conhece bem o país nipônico, “ter um propósito é tão importante nessa cultura que eles não têm nosso conceito de aposentadoria”.
A ilha da (quase juventude eterna)
Alguns estudos sobre a longevidade sugerem que ter uma vida em comunidade e um ikigai claro é tão ou mais importante do que a saudável dieta japonesa.
O conceito que vamos explorar está especialmente enraizado em Okinawa. As pesquisas médicas que estão sendo desenvolvidas lá proporcionaram muitos dados interessantes a respeito das características desses seres humanos extraordinários:
- Além de viverem muito mais que o restante da população mundial, é menor o seu histórico de doenças crônicas como câncer ou patologias cardíacas; enfermidades inflamatórias também são menos comuns.
- Há um grande número de centenários com um nível de vitalidade invejável e um estado de saúde que seria impensável para anciãos de outras localidades.
- Seu sangue apresenta um nível mais baixo de radicais livres, que são os responsáveis pelo envelhecimento celular, graças à cultura do chá e ao costume de se alimentar apenas até saciar 80% do estômago.
- A menopausa é muito mais suave e, de maneira geral, homens e mulheres mantêm um nível elevado de hormônios sexuais até idades muito avançadas.
- O índice de casos de demência é notavelmente mais baixo do que a média da população mundial.
Os pesquisadores ressaltam que um importante responsável pela saúde e longevidade dos habitantes de Okinawa é sua atitude “ikigai” diante da vida, que os faz buscar um sentido profundo em cada dia.
Os segredos da longevidade nas zonas azuis
Cientistas e demógrafos chamam de “zonas azuis” as regiões em que há muitos casos de longevidade. A primeira dessas cinco zonas é Okinawa, onde sobretudo as mulheres têm a existência mais longa — e sem doenças — do mundo.
As cinco regiões identificadas e analisadas por Buettner em um de seus livros sobre as zonas azuis são:
1. Okinawa, Japão (sobretudo, o norte da ilha). A dieta da região inclui muitas verduras e tofu. Seus habitantes comem em pratos pequenos. Em sua expectativa de vida, além da filosofi a ikigai, é importante o conceito de “moai” (grupo de amigos muito próximos).
2. Sardenha, Itália (especificamente as províncias de Nuoro e Ogliastra). Seus habitantes consomem muitas verduras e vinho. Tratam-se de comunidades muito unidas, o que exerce grande influência na longevidade.
3. Loma Linda, Califórnia. Os pesquisadores estudaram um grupo de adventistas do sétimo dia que estão entre os mais longevos dos Estados Unidos.
4. Península de Nicoya, Costa Rica. Muitos nativos passam dos 90 anos com uma vitalidade admirável. Grande parte dos anciãos se levanta às 5h30, sem grandes dificuldades, para trabalhar no campo
5. Icária, Grécia. Um em cada três habitantes dessa ilha próxima à costa turca tem mais de 90 anos, o que lhe valeu o apelido de “a ilha da longevidade”. (Para se ter uma ideia, segundo dados de 2016 do IBGE, os nonagenários não chegavam a 0,5% da população brasileira.) Ao que parece, o segredo dos nativos remonta a um estilo de vida existente desde o ano 500 a.C.
É interessante destacar que três dessas zonas são compostas por populações insulares que dispõem de menos recursos e precisam se ajudar. A obrigação de ajudar uns aos outros constitui para muitas pessoas um ikigai poderoso o suficiente para continuar vivendo.
Segundo os cientistas que compararam a vida nas cinco zonas azuis, os segredos para uma vida longa são a dieta, o exercício, ter um propósito (um ikigai) e boas ligações sociais, ou seja, muitos amigos e boas relações na família.