“Democrata não é, mas já se pode dizer que é quase um extremista” – disparou Reinaldo Azevedo contra um jornalista do New York Times crítico do STF. Afinal, em terra de “democratas”, quem tem uma opinião é réu.
“Quais tipos de armas devemos ou não permitir?” – pergunta um Executivo da NFL, a liga de futebol americano, discutindo punições a jogadores que comemorarem fazendo arminha com as mãos. Pode parecer bobagem, mas um conhecido meu já perdeu dois amigos imaginários assim.
“Direita soube manipular raiva dos pobres” – Jessé Souza, articulista da Folha de S.Paulo. Verdade, mas dê-se o crédito onde é devido: a esquerda fez um belíssimo trabalho na produção da matéria-prima.
“Os dirigentes do Hamas têm a maior envergadura moral de todos os seres humanos do mundo” – Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO). Uma envergadura tão impressionante que os invertebrados aplaudem de pé.
“Nas grandes catástrofes humanitárias, somos um povo solidário. Nos outros momentos, não nos preocupamos. A cidadania não é um traço cultural do brasileiro” – José Luiz Egydio Setúbal, herdeiro, banqueiro e ongueiro. Mil desculpas por ter pensado que o bolsa-empresário e os juros extorsivos já eram solidariedade suficiente para o Itaú.
“A gente comia comida sem sal. Essa é a forma que a sociedade trata mais de 800 mil encarcerados” – Eike Batista, ex-presidiário, sobre a temporada que passou em Bangu 9. O combate à corrupção deixa a desejar, mas o combate à hipertensão parece estar em dia.
“I love Ozempic” – outdoor vestido por Thais Carla, dançarina, com referência irônica a remédio contra obesidade.
“Gosto de sexo, mas sou boa mãe” – Juliana Martins, atriz, em entrevista à revista Veja. Que bom, é só fazer uma coisa de cada vez que dá tudo certo.
“Regulação de plataformas pode impedir que o mundo despenque em abismo de ódio” – Luís Roberto Barroso, ministro do STF. Dê-me as mordaças e eu recivilizarei o mundo!
“A Faria Lima só faz biquinho, é ridículo” – Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista, defendendo o governo das críticas do mercado. Comprovado: mendonça de barro enferruja.
“Só há uma explicação para os juros e o dólar subirem no Brasil, em descompasso com outros países: a especulação descarada dos agentes do mercado” – Gleisi Hoffmann, deputada federal (PT-PR). Só no Brasil os especuladores são gananciosos. No resto do mundo, eles são bonzinhos e têm consciência social.
“Não faz o menor sentido proibir ministros do Supremo no TSE” – Gilmar Mendes, ministro do STF. Um verdadeiro absurdo. Se não acabarem com esses ataques ao STF, o Brasil vai acabar descambando pra uma democracia.
“Tem uma gleba de gente, uma manada de gente… qual é o coletivo de gente?” – Astrid Fontenelle, se revoltando com eleitores de direita. Faz tanto tempo que a esquerda não vê uma multidão, que nem lembra mais o nome.
“A única monogamia possível é da gente com a gente mesmo” – Maria Homem, psicanalista. O problema é que eu não faço o meu tipo. Prefiro as ruivas.
“Somos um país mergulhado em uma ditadura. Nós temos presos políticos, exilados políticos” – Dom Adair José Guimarães, Bispo de Formosa (GO), durante homília. Finalmente, uma Teologia da Libertação que a gente pode apoiar.
“O déficit das estatais federais, ao contrário do que muitos pensam, não significa prejuízo” – Esther Dweck, ministra da Gestão. Às vezes, é só incompetência mesmo.
“A complexa situação geopolítica é acrescida ademais pelo uso do dólar como uma arma” – Dilma Rousseff, presidenta do Banco dos BRICs. Pode ficar tranquila, se o dólar é uma arma, a população brasileira já está desarmada há muito tempo.
“O STF desempenha papel essencial na gestão pública” – Flávio Dino, ministro do STF, em artigo para o portal jurídico Migalhas. O que falta na defesa da Constituição, sobra na administração do país. Não dá para esperar que o STF faça tudo sozinho.
Cantinho dos Estados Desunidos
Confira:
“É legal assistir a um filme de Mad Max, mas não queremos estar em um filme de Mad Max!” – Elon Musk, discursando em evento de campanha de Donald Trump na Pensilvânia. Particularmente, eu prefiro o mundo do Mad Max ao de Onze Homens e Um Segredo em que vivemos aqui.
“Senhor Presidente, por favor, não deixe os Estados Unidos virarem um Brasil!” – Nayara Andrejczyk, brasileira radicada nos EUA, ao ser atendida por Donald Trump em drive-thru do McDonald’s. Que nada, os EUA ainda precisam comer muito feijão com arroz para chegar aos pés do Brasil.
“Acho que você está no comício errado…” – Kamala Harris, respondendo a membro da audiência que gritou “Jesus é o Senhor” durante seu discurso. Se a Kamala fez pacto com o demo, bem que podia ter pedido algum talento em troca.
“Em toda a minha carreira, tive apenas um cliente: o povo” – Kamala Harris. Dizem as más línguas que ela teve muitos clientes, mas não imaginava que fossem tantos assim…
“Matem o Twitter de Musk” – recomendação vazada de Consultores Britânicos à campanha de Kamala Harris. Será que os tais consultores se chamavam Louis Robert Clayson e Alexander E. Morrall?
“Uma nação, sob o gingado… dançando só pra curtir um funk” – Kamala Harris, cantando em vídeo de campanha. Quem disse que democrata não sabe sambar?
Eleicinhas 2024
“Eu estive outro dia na Praça da Sé, era por volta de 22 horas, as crianças brincando…” – Ricardo Nunes, prefeito de SP e candidato à reeleição (MDB), durante debate. Político em época de eleição inaugura até creche na Cracolândia.
“O apagão nos levou a novo patamar… uma nova chuva com ventos fortes seria bem-vinda” – relatório interno do PSOL, intitulado “Santo Apagão”, que discutia as vantagens eleitorais do apagão que afetou três milhões de pessoas em SP. Comemorar a desgraça alheia faz parte, mas botar a Sonia Guajajara pra fazer a dança da chuva extrapolou todos os limites.
“Vou dormir na casa dessas pessoas. Vou dialogar com essas pessoas” – Guilherme Boulos, candidato a prefeito de SP (PSOL), anunciando nova estratégia. Não sei se vai dar certo com ele avisando antes; perde todo o elemento surpresa.
“Vai ser tão lindo ter Boulos prefeito de SP” – Leandra Leal, atriz carioca, pedindo votos para o candidato do PSOL. O ódio irracional de alguns cariocas por São Paulo está chegando a níveis preocupantes.
“Ah, mas o feminicídio, aqui no Brasil tantas mulheres morrem por dia. Tá. Dane-se. E quantos homens morrem por dia?” – André Fernandes, candidato à prefeitura de Fortaleza (PL-CE). Calma, não precisa morrer ninguém pra sobrar homem para todo mundo.
“O Ricardo Nunes falando em corrupção parece o casal Nardoni falando em cuidar dos filhos, é o mesmo nível” – Guilherme Boulos, durante debate do 2º turno das eleições. Uma verdadeira aula de empatia, brincando de forma leve e descontraída com o sombrio tema do infanticídio. Para ele, nenhum assunto é tabu.
“Abraço para a Paula Tejando” – Guilherme Boulos, caindo em pegadinha durante live. Esse Ivo Holanda é muito cara-de-pau.
“Você cria na sociedade um sentimento de eleição decidida e desanima os eleitores de um lado” – Guilherme Boulos, sobre motivos para ação judicial do PSOL buscando censurar pesquisa do Datafolha. Eu concordo, se formos deixar a realidade desanimar os eleitores, é melhor nem fazer eleições.
“Me desculpe, eu não sou a Madre Teresa de Calcutá” – Guilherme Boulos, sobre reagir aos ataques na campanha. Não precisa ser nenhuma Madre Teresa para ter um pouquinho de caridade com a paciência alheia, né?
Golpe de atestado
“Se o pessoal explora um incidentezinho desse, imaginem com Lula ao lado de Putin. Qualquer coisa que ele falasse seria maximizada e viraria manchete” – Tales Faria, colunista do UOL, sobre suposta queda que impediu viagem de Lula à cúpula dos BRICs na Rússia. Imaginem a temeridade de associar a imagem do Lula a suas trapalhadas?
“Lula está com total clareza de ideias e linguagem perfeita”
Celso Amorim, chanceler de extrema-esquerda e amigo de ditadores. O tombo deve ter sido mais sério do que eu imaginava para deixar sequelas tão surpreendentes.
“A questão da Venezuela [no BRICs] não tem a ver com democracia, tem a ver com a quebra de confiança” – Celso Amorim. Ufa, que alívio saber que nossa diplomacia só lida com ditadores e terroristas em quem realmente podemos confiar.
“Companheiros, espero vê-los na próxima cúpula para construir mais um capítulo da nossa história comum” – Lula, em discurso à Cúpula dos BRICs. Lula é um grande otimista. Só assim para acreditar que todos os seus companheiros vão chegar inteiros à próxima cúpula – levando em conta os eventos recentes.
Fact-Checking os Fact-Checkers
“É FAKE que Lula tenha morrido após acidente doméstico e que G1 tenha noticiado” – fact-checking do G1. Olha, se não avisam…
“Trump compartilhou o que parece ser uma imagem gerada por IA mostrando-o como um jogador do [time de futebol americano] Pittsburgh Steelers” – importante esclarecimento da Newsweek, revista americana. E eu aqui, quase acreditando que o Trump tinha virado atleta aos 78 anos e a dois Big Macs de distância de um infarto.
Memória
“O governo não comprou vacinas e não se preparou para a segunda onda. Hoje minha angústia virou raiva. Basta desses incompetentes” – Ethel Maciel, atual Secretaria de Vigilância em Saúde, em março de 2021. E essa angústia no teu coraçãozinho, virou amor agora que faltam vacinas para dengue enquanto as de Covid são desperdiçadas?
Ari Fusevick é brasileiro não-praticante, escreve sobre filosofia, economia e política, na margem entre o inconcebível e o indesejável. Colabora com a Gazeta do Povo, Newsmax e New York Post. Autor da newsletter “Livre Arbítrio” e do livro “Primavera Brasileira”.