Dezoito estados brasileiros relataram falta total ou parcial de vacinas contra a Covid-19 para vacinação pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O desabastecimento foi divulgado nesta quarta (23) em uma apuração do jornal Folha de S.Paulo com todas as unidades da federação.
De acordo com a apuração, a escassez é maior entre as doses voltadas ao público infantil menor de 12 anos. No entanto, o Ministério da Saúde negou que haja uma “falta generalizada” e disse que houve um “desabastecimento momentâneo”, e que iria começar a fazer novas entregas ainda a partir de quarta (23), mas sem detalhar como.
Parte da dificuldade se deve ao fato de que o governo perdeu mais de 4 milhões de doses devido ao fim do prazo de validade. O volume representa um terço das 12,5 milhões de vacinas compradas da farmacêutica Moderna em 2024.
A empresa entregou lotes com validade curta, mas se comprometeu a repor as doses. O impacto foi sentido na redução das distribuições mensais, que caíram de 3,55 milhões em maio para apenas 550 mil em setembro.
Entre os estados, o governo do Rio Grande do Sul afirmou à apuração que não recebe vacinas infantis desde junho, enquanto outros estados, como Santa Catarina, Minas Gerais e Ceará, relataram ter recebido o último lote destinado a crianças em julho.
A situação também é crítica em grandes cidades, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Goiânia, Salvador e Recife, que já não têm vacinas disponíveis para nenhuma faixa etária. Em São Paulo, a capital aguarda novas doses, mas o site De Olho na Fila, que monitora o estoque nas unidades de saúde, mostra que não há imunizantes em postos localizados no centro da cidade.
A escassez se dá em um ano no qual o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inseriu a vacina contra a Covid-19 no calendário infantil e havia planejado entregar 70 milhões de doses atualizadas. Até o momento, no entanto, apenas 8 milhões de vacinas da Moderna, adaptadas à variante XBB, foram repassadas aos estados. Do total de imunizantes entregues, cerca de 3,1 milhões já foram aplicados.
O ministério havia, ainda, solicitado urgência ao laboratório da Fiocruz para a liberação das doses, destacando a situação crítica de abastecimento em todo o país.
Segundo o Ministério da Saúde, uma nova remessa de 1,2 milhão de doses estava sendo analisada pelo INCQS (Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde) até esta semana. A expectativa é que essas vacinas sejam liberadas e distribuídas aos estados o mais breve possível.
Em paralelo, veio à tona o desperdício de 80% de um lote de 10 milhões de vacinas Coronavac, compradas tardiamente em 2023. O prejuízo ultrapassa R$ 260 milhões.
O governo Lula atribuiu a baixa demanda pela vacina a supostas fake news que impactaram a adesão à campanha de imunização, especialmente entre o público infantil. De acordo com Eder Gatti, diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), grupos realizaram “ataques sistemáticos” que contribuíram para o cenário de baixa vacinação.