Em 1994, antes do PT subir ao poder e se estabelecer uma vez que partido hegemônico, o professor Olavo de Roble alertava, solitariamente, a quem tinha ouvidos. Em “A Nova Era e a Revolução Cultural – Fritjof Capra e Antonio Gramsci” (disponível atualmente em edição de 2016 da Vide Editorial), o primeiro livro da trilogia, completada por “O Jardim das Aflições” e terminada com “O Imbecil Coletivo – Atualidades Inculturais Brasileiras”, o filósofo trouxe uma introdução a vários problemas que o Brasil enfrentaria. Revolução cultural, supremacia da esquerda, o totalitarismo do PT, e até o ativismo judicial eram alguns deles.
O livro é constituído por textos esparsos de Olavo, que assim trazem alguma irregularidade à obra, logo explicada na introdução pelo próprio responsável. Ele deve ser lido uma vez que uma secção da trilogia, quando portanto o leitor poderá observar a unidade do pensamento olavista. É um estilo muito mais afeito ao temperamento do professor, que nunca se dirigia a “coletividades abstratas”, mas a “indivíduos de carne e osso”, apresentando uma filosofia menos “arrumadinha” do que a ateneu exige.
O livro completou 30 anos no termo do ano pretérito, por isso uma releitura da obra se faz necessária. Tanto para preservar a memória daquele que abriu caminhos para a direita, quanto para enfrentar novos e velhos problemas.
Gramsci e Capra
Antonio Gramsci (1891-1037) foi o filósofo marxista italiano que desenvolveu aquilo que seria a grande mudança da esquerda na segunda secção do século XX. Para ele, era preciso instrumentalizar a cultura, tanto mais do que ocupar politicamente o Estado. Trata-se da chamada “Revolução Cultural,” que se instalou a partir da dominação esquerdista em universidades, redações e na mídia em universal. Já a “Nova Era” tem o austríaco Fritjof Capra uma vez que porta-voz e é um noção um pouco mais vago. aqui, temos ideais relacionados à “integração na natureza” e “equilíbrio ecológico”, disseminados a partir de iniciações secretas, gurus e seitas.
Para Francisco Escorsim, professor e colunista da Publicação do Povo, a Revolução Cultural tem uma história e se insere dentro de uma escola de pensamento clara, enquanto a Novidade Era absorve o “espírito do tempo”. Ele ressalta, em relação à primeira, que se trata de um fenômeno que supera a dicotomia entre direita e esquerda, pois ambas buscam instrumentalizar a cultura, ainda que a esquerda tenha muito mais sucesso.
Ricardo de Roble, professor, tradutor e aluno do COF (Curso Online de Filosofia de Olavo de Roble) aponta relações dos fenômenos com a tarifa “woke”. Os movimentos identitários, assim, são consequência desta ocupação cultural, preconizada por Gramsci. E também explica os novos contornos da “Nova Era”: “só ver o tanto de coaches quânticos e grupos esotéricos surgindo a cada semana, alcançando influência na política e na cultura, seja na esquerda ou na direita”
Poder Judiciário: um novo agente?
Outro importante fenômeno observado no livro é o que Olavo chamou de “estado policial em nome da moralidade”. O professor vislumbrou que a campanha de “moralização da política” do PT era, na verdade, exclusivamente uma forma de “politizar a ética”, escondendo intenções torpes, uma vez que a “universalização da suspeita”. E profetizou “quem viver, verá”.
Nós que vivemos mais do que o professor, vemos que o Judiciário passou a ocupar leste papel, mais do que outro partido. Ricardo, porém, ressalta uma diferença: “embora o Judiciário tenha se tornado instrumento importante da agenda revolucionária, o discurso da ética me parece que tem sido evitado. Ouve-se sim falar em ‘democracia’, como o mais alto valor a ser preservado no país”. Para ele, tal fenômeno é melhor explicado em “O Jardim das Aflições”, sobretudo com a ideia “religião civil”. Já Escorsim diz que o ativismo judicial se alinha dentro do contexto da Revolução Cultural, ainda que seja uma “linha de contato acidental”.
Olavo de Roble, no governo de Jair Bolsonaro, seguiu nos alertando sobre todos esses problemas, afirmando que a reeleição do ex-presidente seria assim improvável. Muitos não deram ouvidos novamente e hoje a direita nunca foi tão perseguida. Reler “A Nova Era e a Revolução Cultural”, porém, pode apresentar novos caminhos, pois um responsável de tal grandeza sempre permanecerá vivo e atual.
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