O ano de 2025 será mais difícil para a economia brasileira. Empresas e consumidores demonstram preocupação com um cenário de juros mais altos e inflação próxima ou supra do teto da meta. Em seguida quatro anos consecutivos de desenvolvimento econômico em torno de 3% ou mais, a expectativa é de que o ritmo de subida do PIB desacelere.
O ponto médio das projeções do mercado é de expansão próxima de 2% em 2025, posteriormente subida em torno de 3,5% em 2024. Se confirmado, será o menor desenvolvimento econômico desde 2020.
Apesar do aperto monetário, as expectativas para a inflação de 2025 subiram nas últimas semanas, se aproximando de 5% – a meta perseguida pelo BC é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual. Também pioraram as expectativas para o dólar ao termo de 2025, cada vez mais próximas de R$ 6.
Crédito em queda entre consumidores e empresas
Confira:
A crédito do consumidor atingiu em dezembro o menor nível desde junho, segundo o Instituto Brasílio de Economia da Instalação Getulio Vargas (FGV Ibre). A economista Anna Carolina Gouveia atribui essa queda ao agravamento das expectativas futuras e à percepção negativa da situação atual, com maior impacto entre as famílias de menor renda. Ela destaca que a subida dos juros e a pressão inflacionária em itens uma vez que víveres intensificam o pessimismo sobre as finanças nos próximos meses.
Segundo Ricardo Alban, presidente da Confederação Pátrio da Indústria (CNI), a elevação dos juros reduz o consumo e os investimentos, dificultando o crédito, enquanto o mercado de trabalho desacelera posteriormente três anos positivos, e o impulso fiscal diminui com menor gasto público.
A crédito dos empresários da indústria também caiu em 27 dos 29 segmentos pesquisados pela CNI, afetando todas as regiões e empresas de diferentes portes. O número de setores pessimistas saltou de 2, em novembro, para 17, marcando a maior disseminação de pessimismo desde maio de 2023. Atualmente, somente 11 setores permanecem confiantes, e um está neutro.
Marcelo Azevedo, gerente de estudo econômica da entidade, aponta que as incertezas sobre o ajuste fiscal e seus impactos, somadas ao aumento dos juros e do câmbio, têm proeminente os custos das empresas, agravando a situação.
Até agora, o desenvolvimento do PIB supra do previsto no terceiro trimestre, coligado à robustez do mercado de trabalho, evidencia a resiliência da atividade econômica. O Índice de Atividade Econômica do Banco Médio (IBC-Br) registrou em outubro o maior nível da série histórica, iniciada em 2003.
“Esse dinamismo, impulsionado pela queda da taxa de desemprego e pelo aumento da formalização de vagas, tem sustentado o consumo e pressionado a inflação de serviços, que segue persistente e acima do nível compatível com a meta. Soma-se a isso a política fiscal expansionista, que tem contribuído para o fortalecimento da demanda agregada, atuando como fator adicional de pressão inflacionária”, diz Arnaldo Lima, economista da Polo Capital.
Ações de Lula sobreaqueceram o PIB e se refletem em perda de crédito
A Eurasia Group, uma das principais agências de rating político internacional, rebaixou a classificação de longo prazo do país para negativa, citando o risco de deterioração política, dificuldades no ajuste das contas públicas e os possíveis impactos do retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, com o aumento do protecionismo mercantil.
Pesquisa feita pela Grant Thornton Brasil, que atua no segmento de auditoria e consultoria, mostra que 38% dos executivos financeiros brasileiros ouvidos estão pessimistas com a economia brasileira na primeira metade de 2025. Custos e liquidez são as principais preocupações das lideranças do setor.
As taxas de lucro com recursos de livre uso para licença de crédito por segmento das instituições financeiras atingiram, em outubro, o maior nível desde fevereiro, de consonância com levantamento do BC.
Segundo o sócio-líder de valuation, gestão de ativos e fusões e aquisições da Grant Thornton Brasil, Marco Aurélio Neves, mais da metade dos executivos entrevistados possui expectativa de retração de receitas e lucros para os próximos 12 meses e um desenvolvimento de despesas.
A avaliação deles é que haverá manutenção ou redução não significativa da inflação, redução no aproximação ao crédito e restrições a alternativas de captação, uma vez que IPOs.
Mercado de trabalho começa a dar sinais de desaquecimento
Levantamento realizado pela Robert Half, uma das maiores empresas de recrutamento de talentos no mundo, mostra que 67% dos profissionais de RH ouvidos no Brasil projetam dificuldades para contratar nos próximos seis meses. Outros 28% projetam desafios maiores.
O diretor-geral da empresa para a América do Sul, Fernando Mantovani, avalia que, em um contexto de instabilidade fiscal, juros altos e valorização do dólar, as empresas devem adotar critérios rigorosos para prometer que os novos talentos tenham as competências e a visão necessárias para o negócio decolar.
O FGV Ibre detectou também uma queda no indicador precedente de tarefa. “A combinação de aumento de incerteza nos últimos meses, com a expectativa de atividade econômica menos intensa no próximo ano, sugere um novo momento do indicador, com mais cautela por parte de empresários nas intenções de contratar”, diz o economista Rodolpho Tobler.
Cenário interno não deve mudar no limitado prazo
Não há expectativas de que o cenário melhore no limitado prazo. O governo federalista enviou um pacote tímido de contenção de gastos, que foi desidratado no Congresso, e as expectativas do Tesouro Pátrio em relação ao endividamento público são excessivamente otimistas, avaliam analistas de mercado.
O economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, vê muito otimismo nesse cenário. A expectativa dele é que a dívida pública cresça até 2033, quando ultrapassará 94% do PIB.
Segundo o BC, em outubro, o endividamento do setor público consolidado – que abrange o governo federalista, o INSS e governos estaduais e municipais – atingiu 78,6% do PIB.
Desafios econômicos em 2025 também vêm do exterior
Outra preocupação vem da espaço externa. Eirini Tsekeridou, crítico de renda fixa do banco suíço Julius Baer, destaca que o BC brasílico também percebeu que o aumento das incertezas em relação à economia norte-americana e outros desafios no cenário extrínseco requerem uma postura mais cautelosa por segmento dos países emergentes.
A Associação de Negócio Exterior do Brasil (AEB) também lembra que, posteriormente dois anos de aparente segurança do cenário mundial, a situação ficou mais complexa.
A possibilidade de uma novidade guerra mercantil entre os Estados Unidos e a China ganha força. Alguns temores entre as empresas são o aumento de tarifas comerciais e do protecionismo por segmento dos EUA. Do lado asiático, segundo a AEB, há a preocupação com a redução da demanda, queda sintético de preços e menor demanda por commodities.
Segundo Thiago Duarte, crítico de mercado da corretora global de câmbio Axi, o recente pregão de Trump sobre potenciais tarifas já motivo efeitos em cascata nos mercados globais.
“A taxa de câmbio está pairando acima de R$ 6 por dólar, um nível que destaca a vulnerabilidade do real brasileiro em meio a preocupações crescentes sobre a política comercial dos EUA. A promessa de Trump de implementar tarifas sobre várias importações-chave pode ter ramificações significativas para o Brasil, especialmente considerando sua dependência das exportações de commodities”, diz.
A avaliação da corretora é de que as tarifas propostas pelo porvir presidente americano, que toma posse em 20 de janeiro, pesarão fortemente sobre os sentimentos dos investidores nos mercados emergentes.
Duarte avalia que, no caso brasílico, pode possuir perda de competitividade das exportações em itens importantes da taxa, uma vez que produtos agrícolas e aço.
“Olhando para o futuro, acreditamos que se essas tarifas forem implementadas, o real poderá enfrentar mais pressão, forçando o BC a reavaliar suas trajetórias de política monetária para manter a estabilidade econômica”, diz o crítico da Axi.